
Sinto a sua falta.
Sinto que devo sentir a sua falta.
Sinto que talvez somente assim: invisíveis, inaudíveis, intocáveis
Nos sintamos, sem sintomas.
Eu sinto muito.
"Lá vai o meu bem-amado,
que toca gaita e toca fado
tem lá seu jeito de safado
E é de seu amor um grande exagerado
Nas suas mãos meu cabelo enrolado
no seu abraço, o meu beijo embaraçado
E todo o público olha despeitado
Esse casal tão belo e tão apaixonado" 1
"Meus velhos amigos são os astros,
A água, o céu, o chão...
Meus conhecidos se desintegraram
As rochas, a carne e a poeira
Meus amores são as estrelas
Cada uma delas...
A música, os sonhos, seus filhos,
são minha decalaração
De amor e de ódio
Fumaças, cinzas e brasa
Mais doces que as cores,
Mais suaves que a luz
Notas musicais e gritos humanos:
eu moro neles e me escondo em seus tons
À chuva dedico minha existência
E vivo para escutar sua voz" 2
"Presa - paredes frias e mofadas
Cimento velho, manchado
vidro translúcido, sujo,
ninho de vespas mortas:
Assim é meu lar
quando não moro em você
E o meu mundo é terrível
quando não entra pelas janelas
a brisa do hálito seu.
Estou trancada em mim mesma,
e não posso mais viver nessa casa triste." 3
O primeiro final (é bom poder rir disso agora... eu mal sabia que estava só começando) :
"Eu fecho os meus olhos.
Escrevo no escuro.
Tem estado desabotada
a minha cortina sem luz.
Meu corpo, tudo dói tanto...
Como se eu estivesse doente
Numa cama sem lençóis,
Coberta com o cheiro de ontem,
Vestida de pingos d'água gelados...
Não consigo dormir,
mesmo estando fechados os olhos -
presto atenção aos barulhos.
Escuto ecos de adeuses,
Buzinas teimosas:
Seus adeuses loucos para irem embora,
meu silêncio querendo que você fique.
Não sei mais o que diz essa caneta.
Não sei o que quero que você saiba.
Continuo fechando meus olhos
Para esquecer que ainda respiro,
Pra não lembrar que está dolorido,
Que está tudo errado,
Que ficou tudo triste..."
No tempo de semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta.
Conduz teu carro e teu arado sobre a ossada dos mortos.
O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.
A Prudência é uma rica, feia e velha donzela cortejada pela Impotência.
Aquele que deseja e não age engendra a peste.
O verme perdoa o arado que o corta.
Imerge no rio aquele que a água ama.
O tolo não vê a mesma árvore que o sábio vê.
Aquele cuja face não fulgura jamais será uma estrela.
A Eternidade anda enamorada dos frutos do tempo.
À laboriosa abelha não sobra tempo para tristezas.
As horas de insensatez, mede-as o relógio; as de sabedoria, porém, não há relógio que as meça.
Todo alimento sadio se colhe sem rede e sem laço.
Toma número, peso & medida em ano de míngua.
Ave alguma se eleva a grande altura, se se eleva com suas próprias alas.
Um cadáver não revida agravos.
O ato mais alto é até outro elevar-te.
Se persistisse em sua tolice, o tolo sábio se tornaria.
A tolice é o manto da malandrice. O manto do orgulho, a vergonha.
Prisões se constroem com pedras da Lei; Bordéis, com tijolos da Religião.
A vanglória do pavão é a glória de Deus.
O cabritismo do bode é a bondade de Deus.
A fúria do leão é a sabedoria de Deus.
A nudez da mulher é a obra de Deus.
Excesso de pranto ri. Excesso de riso chora.
O rugir de leões, o uivar de lobos, o furor do mar em procela e a espada destruidora são fragmentos de eternidade, demasiado grandes para o olho humano.
A raposa culpa o ardil, não a si mesma.
Júbilo fecunda. Tristeza engendra.
Vista o homem a pele do leão, a mulher, o velo da ovelha.
O pássaro um ninho, a aranha uma teia, o homem amizade.
O tolo, egoísta e risonho, & o tolo, sisudo e tristonho, serão ambos julgados sábios, para que sejam exemplo.
O que agora se prova, outrora foi imaginário.
O rato, o camundongo, a raposa e o coelho espreitam as raízes; o leão, o tigre, o cavalo e o elefante espreitam os frutos.
A cisterna contém: a fonte transborda.
Uma só idéia impregna a imensidão.
Dize sempre o que pensas e o vil te evitará.
Tudo em que se pode crer é imagem da verdade.
Jamais uma águia perdeu tanto tempo como quando se dispôs a aprendercom a gralha.
A raposa provê a si mesma, mas Deus provê ao leão.
De manhã, pensa, Ao meio-dia, age. Ao entardecer, come. De noite, dorme.
Quem consentiu que dele te aproveitasses, este te conhece.
Assim como o arado segue as palavras, Deus recompensa as preces.
Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução.
Da água estagnada espera veneno.
Jamais saberás o que é suficiente, se não souberes o que é mais que suficiente.
Ouve a crítica do tolo! É um direito régio!
Os olhos de fogo, as narinas de ar, a boca de água, a barba de terra.
O fraco em coragem é forte em astúcia.
A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão ao cavalo como apanhar sua presa.
Quem reconhecido recebe, abundante colheita obtém.
Se outros não fossem tolos, seríamos nós.
A alma de doce deleite jamais será maculada.
Quando vês uma Águia, vês uma parcela do Gênio; ergue a cabeça!
Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para pôr seus ovos, o sacerdote lança sua
maldição sobre as alegrias mais belas.
Criar uma pequena flor é labor de séculos.
Maldição tensiona: Benção relaxa.
O melhor vinho é o mais velho, a melhor água, a mais nova.
Orações não aram! Louvores não colhem!Júbilos não riem! Tristezas não choram!
A cabeça, Sublime; o coração, Paixão; os genitais, Beleza; mãos e pés, Proporção.
Como o ar para o pássaro, ou o mar para o peixe, assim o desprezo parao desprezível.
O corvo queria tudo negro; tudo branco, a coruja.
Exuberância é Beleza.
Se seguisse os conselhos da raposa, o leão seria astuto.
O Progresso constrói caminhos retos; mas caminhos tortuosos sem Progresso são caminhos de Gênio.
Melhor matar um bebê em seu berço que acalentar desejos irrealizáveis.
Onde ausente o homem, estéril a natureza.
A verdade jamais será dita de modo compreensível, sem que nela se creia.
Suficiente! ou Demasiado.
Os Poetas antigos animaram todos os objetos sensíveis com Deuses e Gênios, nomeando-os e adornando-os com os atributos de bosques, rios, montanhas, lagos, cidades, nações e tudo quanto seus amplos e numerosos sentidos permitiam perceber.E estudaram, em particular, o caráter de cada cidade e país, identificando-os segundo sua deidade mental;
Até que se estabeleceu um sistema, do qual alguns se favoreceram, & escravizaram o vulgo com o intento de concretizar ou abstrair asdeidades mentais a partir de seus objetos: assim começou o Sacerdócio;
Pela escolha de formas de culto das narrativas poéticas. E proclamaram, por fim, que os Deuses haviam ordenado tais coisas. Desse modo, os homens esqueceram que todas as deidades residem no coração humano.
WILLIAM BLAKE. (retirado de "O Casamento do Céu e do Inferno.")