domingo, 27 de abril de 2008

Escritos antigos...

Lendo minha agenda de 1999 [ naquela época ainda não imaginávamos a existência de blogs (pelo menos não eu, que só mui recentemente venho aderindo às novas tecnologias) e talvez fôssemos mais introspectivos, menos exibicionistas, quem sabe, ou simplesmente não tínhamos a oportunidade de compartilhar sentimentos e idéias como temos hoje em dia - esta é uma possibilidade mais otimista e menos crítica], achei alguns poeminhas bonitinhos escritos por mim... há nove anos atrás, quando eu comecei a me apaixonar e viver essas paixões de maneira não platônica e todas as conseqüências disso, antes de eu ter mais o que fazer além de descobrir o mundo, quando os conflitos ainda despontavam, longe... enfim: quando eu era ainda "apenas" uma adolescente.
Lendo meus escritos daquela época, não só as poesias, mas o que eu pensava e sentia diariamente, me surpreendi... vi que muitas vezes o amadurecimento, os anos a mais, ofuscam nossas vistas, pois a inocência é um caminho simples para a compreensão intuitiva do mundo e do universo, compreensão esta que nós adultos tentamos desenvolver hoje em dia buscando mil teorias, centenas de oráculos, de gurus, professores, analistas, religiões, bússolas...
A verdade é que não pensar, simplesmente estar deixando as coisas acontecerem, estar maravilhado com tudo é uma maneira tão eficiente (e nessa época também nos ajuda muito não pensar muito em termos de eficiência) de estar conectado com o todo e, por isso, ser sábio sem saber e o melhor: sem querer ser...
O que eu vi ao ler os meus escritos foi leveza, e mesmo os escritos mais "existencialistas" ou tristes (apesar de a maioria deles ter uma tônica mais romântica: algumas coisas não mudam) eram ingênuos. Deixo alguns deles aqui:
...

"Lá vai o meu bem-amado,
que toca gaita e toca fado
tem lá seu jeito de safado
E é de seu amor um grande exagerado

Nas suas mãos meu cabelo enrolado
no seu abraço, o meu beijo embaraçado
E todo o público olha despeitado
Esse casal tão belo e tão apaixonado"
1

"Meus velhos amigos são os astros,
A água, o céu, o chão...
Meus conhecidos se desintegraram
As rochas, a carne e a poeira

Meus amores são as estrelas
Cada uma delas...
A música, os sonhos, seus filhos,
são minha decalaração
De amor e de ódio

Fumaças, cinzas e brasa
Mais doces que as cores,
Mais suaves que a luz

Notas musicais e gritos humanos:
eu moro neles e me escondo em seus tons
À chuva dedico minha existência
E vivo para escutar sua voz
" 2

"Presa - paredes frias e mofadas
Cimento velho, manchado
vidro translúcido, sujo,
ninho de vespas mortas:
Assim é meu lar
quando não moro em você
E o meu mundo é terrível
quando não entra pelas janelas
a brisa do hálito seu.
Estou trancada em mim mesma,
e não posso mais viver nessa casa triste."
3

O primeiro final (é bom poder rir disso agora... eu mal sabia que estava só começando) :

"Eu fecho os meus olhos.
Escrevo no escuro.
Tem estado desabotada
a minha cortina sem luz.
Meu corpo, tudo dói tanto...
Como se eu estivesse doente
Numa cama sem lençóis,
Coberta com o cheiro de ontem,
Vestida de pingos d'água gelados...


Não consigo dormir,
mesmo estando fechados os olhos -
presto atenção aos barulhos.
Escuto ecos de adeuses,
Buzinas teimosas:
Seus adeuses loucos para irem embora,
meu silêncio querendo que você fique.


Não sei mais o que diz essa caneta.
Não sei o que quero que você saiba.
Continuo fechando meus olhos
Para esquecer que ainda respiro,
Pra não lembrar que está dolorido,
Que está tudo errado,
Que ficou tudo triste..."
4


1- que bom era bastar alguém passar na rua assoprando uma gaita para, imediatamente, um poema brotar, despretencioso e bonitinho... me lembro como se fosse ontem...

2- Nessa época eu ainda não estudava astrologia, mas já me inspiravam as estrelas e os elementos... acho que já tava na alma... desde sempre...

3- Eu estava "estudando" na biblioteca da UnB... digamos que a feia vista do local me inspirou esse poema romântico...

4- Primeiro final de namoro (diga-se de passagem: depois de 1 mês, rsrsrs - sempre fui dramática...)

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