terça-feira, 15 de novembro de 2011

Love Heals (ou me livrando das dores subliminares)

Ontem recebi a visita de uma amiga querida. (Os amigos são mesmo anjos disfarçados que aparecem nas horas certas!).
Há tempos ela não entrava na minha casa, e por isso, ficou surpresa com todas as novidades, com a nova decoração (que para mim já estava velha), com os quadros pregados na parede, com os detalhezinhos em cada canto, com os penduricalhos e com cada plantinha na varanda.
Como deve ser recebida uma boa amiga, preparei chocolate quente, afinal era um início de noite chuvosa e ela merecia um carinho doce o suficiente para fazê-la esquecer-se do dia agitado que havia recém acabado.
Conversamos, mostrei a ela algumas gravuras antigas que eu mesma tinha feito há algum tempo, pedi opinião sobre a moldura mais adequada, aproveitamos e rastreamos todas as outras gravuras que precisavam ser emolduradas. Arrancamos das paredes pôsteres que estavam precariamente colados com durex: que sacrilégio deixar as quatro estações do Mucha presas assim, por pura falta da atitude simples de ir à casa das molduras!
Conversamos sobre feng shui e sobre as energias estagnadas que acabam uma hora ou outra instalando-se nas nossas casas. E ela então, como se fosse um pêndulo de radiestesia, saiu andando pelos cômodos e, passados alguns momentos, começou a apontar intuitivamente todas as coisas que segundo ela tinham uma energia pesada. Bingo! Ela foi em todos os objetos que de fato tinham uma energia que já não combinavam com o presente: objetos que faziam referência ao passado, objetos dados por pessoas do passado que não fazem mais parte da minha vida. Mas eu, talvez por estar acostumada a eles, simplesmente havia deixado de percebê-los como destoantes de todo o resto...
Pregado na parede da sala, num lugar privilegiado, estava aquilo que havia sido resultado de uma aula de materiais em arte, feita em 2007: Uma xita de fundo amarelo com flores coloridas esticada em um bastidor de bordar redondo, como se fosse uma mandala. Na xita um coração partido bordado: metade dele feito de cetim vermelho, simbolizando a paixão avassaladora que mora dentro da gente. A outra metade feita de tecido xadrez, representando a prisão que as vezes o amor se torna. Alfinetes prateados juntavam as duas metades partidas (o coração era todo costurado com linha grossa preta, à mostra, que evidenciava bem a rachadura no meio dele - como naqueles desenhos em zigue-zague de quando a gente é criança). Algo quase punk-popular-romântico a obra que, para terminar, se chamava: "Love Hurts" (o amor machuca). O amor machuca???
Foi imediatamente para o lixo a obra, sem dó e sem apego! E graças a essa querida e preocupada amiga, que me deu dicas preciosas de de-CORAÇÃO (porque também me deu conselhos sobre o amor...) me dei conta de que por anos eu olhei todos os dias para algo que claramente me dizia: o amor dói!
Um coração remendado adornava a minha sala e eu não tinha me dado conta do que aquilo significava!!! E juro que no primeiro momento jogá-lo no lixo me pareceu um exagero, até que me dei conta de tudo e pronto: adeus coração partido! O amor não dói mais!!! O amor cura! Love Heals!
Olhando agora a parede em branco, me sinto mais leve. Uma parede em branco, pronta para ser pintada de outras cores, para ser texturizada ou para simplesmente permanecer em branco até que algo que valha a pena enfeitá-la apareça. De toda maneira e, acima de tudo, uma parede em branco pronta para o novo que definitivamente não é mais dor...
No lixo outros objetos detectados pela antena amorosa da minha amiga. Tchau! Bye, Bye! Aufidersen! Já vão tarde!
Adeus!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

a ordem dos fatores não altera o lirismo

Eu gosto mesmo é de prosear poesias,
Ou vice-VERSO...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Organic Feelings




Cansei de Fast Love - faz mal ao coração, entope as ARTérias e as veias artísticas, deixa a gente cansada e não é nutritivo o suficiente. Slow food para as emoções: Agora só me alimento se for tudo feito com carinho, aos poucos e com ingredientes muito bem selecionados.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

É tudo uma questão de timing...



"Devagar!", ele disse em voz baixa.
Mas ela estava à frente, caminhando rápido e distraída demais para escutar...

"Perfect Lovers":



Felix Gonzalez-Torres (1987-90)







segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Da série alegrias cotidianas...

UnB, algum ano entre 1999 e 2001. Alguma tarde de setembro ou outubro. Pico da seca. Auge do calor.
Estou andando e vejo um jardineiro aguando as plantas. Sem dúvida alguma, olho pra ele e digo: "Por favor, me molhe também". Ele atende meu pedido. Saio andando completamente molhada e feliz.
Bom reviver essa memória... Bom ter feito isso em vez de ficar sentindo aquele calor insuportável.

sábado, 10 de setembro de 2011

Rapid Eye Movement

Vi seus olhos tremendo enquanto você dormia.
Eu estava acordada olhando você, olhando seus olhos fechados, seus cílios espessos. Rapid Eye Movement e algum sonho bom sendo tecido dentro de você.
Eu estava acordada, quieta, apenas te olhando... talvez tentando adivinhar você, tentando te decifrar em silêncio, enquanto uma lágrima feita de dúvida caiu... escorreu sem que você visse e secou. Meus olhos deixaram mais outras caírem enquanto te mirarvam, ainda de olhos fechados, em outras dimensões:
Tão perto - ao alcance das minhas mãos que passeavam por toda a extensão da sua pele que se arrepiava sem que você sequer notasse.
Tão longe - em algum lugar construído pelos geradores oníricos dos seus olhos fazendo movimentos rápidos.
E eu - no meio do caminho, perdida como o meu olhar...

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Zona Amorosa Autônoma Temporária (ou uma proposta anarco-romântica)

Terrorismo Poético-Amoroso: Liberdade e Prazer como único Compromisso
  1. Escolha um destino qualquer e combine com uma pessoa de quem você goste muito de ter momentos em que o prazer e uma satisfação profunda tomem conta de vocês
  2. Percam a noção de tempo e espaço quando estiverem juntos e provoquem o mundo se rendendo completamente ao momento.
  3. Beijem-se de corpo inteiro, como se estivessem sedentos e famintos e, depois de saciados, se envolvam num abraço infinito no qual vocês se deixam perder
  4. Gozem: o gozo é revolucionário e traz paz e alegria ao mundo
  5. Façam sexo como se estivessem compondo uma música num instrumento de cordas incontáveis, numa escala de tons e semitons ainda a serem descobertos
  6. Olhem-se em silêncio e usem a telepatia. Descartem as palavras e lancem-se no desconhecido mundo que habita os olhares sinceros e abertos
  7. Permitam-se a reciprocidade
  8. Percam o medo
  9. Não se despeçam, apenas definam o próximo destino e selem os momentos de pausa com um beijo carinhoso

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O silêncio do rio...

No carnaval passado imergi no cerrado. Uma parte de mim queria festa, mas acabei respeitando a outra parte que falava mais alto: a que queria calar para ouvir a natureza.
Passei quatro dias prestando atenção em cada mensagem que pudesse surgir.
O que me angustiava àquela época era o silêncio, não o meu, o do outro... Tenho uma dificuldade com a ausência de palavras e manifestações verbais alheias.
Um dia recebi a orientação de me conectar e pedir uma resposta sobre o que eu quisesse. Me deixei levar e quando vi estava sentada à margem de um córrego pequeno. Me abri para ouví-lo. A primeira coisa que ele me disse foi: "estou serenamente indo em frente, sem cessar - esse é o meu destino". Fiquei ali ouvindo o barulho leve que ele fazia enquanto caminhava, e ele continuou:  "Levante-se e me acompanhe, mas fique atenta e olhe sempre bem para onde você pisa".
Levantei e fui seguindo o riozinho que reluzia por causa do reflexo do sol de fim de tarde. Segui o seu curso e ele foi se diluindo na grama até aparentemente desaparecer. No entanto, eu sabia que ele continuava ali, indo para onde ele tinha que ir - para um rio maior, que iria para outro rio maior, que iria para outro rio maior até chegar no oceano, leve o tempo que levar. Ele só estava indo por caminhos invisíveis e subterrâneos...
Nessa hora eu entendi qual era o recado que ele tinha a me dar: o de que nem sempre o silêncio significa inexistência. O rio continuava ali, apesar de não poder ser visto nem ouvido por mim.
Hoje estou indo de novo me calar para ouvir a natureza e a minha angúsita continua sendo a mesma: compreender o silêncio do rio e aprender a respeitar o silêncio dos outros.
Por que é tão difícil?

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sobre fechaduras estragadas que não consertamos...

Já há um tempo, depois de compartilhar minha casa com outra pessoa por um bom período, me vi sozinha de novo. Minha primeira providência foi esvaziar a minha casa de qualquer memória que eu pudesse ter da pessoa que havia estado ali comigo por tanto tempo e de quem eu definitivamente não queria nenhuma lembrança.
Passei meses esvaziando o quarto. Todos os dias eu achava algum resquício que era imediatamente jogado fora ou doado: Eu queria estar só na minha casa, exclusivamente com a minha energia.
Depois de ter esvaziado um dos meus cômodos, me dediquei meses a fio transformando aquele lugar que antes era um depósito de recordações desnecessárias no meu santuário  - o lugar onde coloquei meu altar, minha estante com todos os livros que eu mais gosto, meu tambor, todos os meus tarôs, meu violão... Comprei um tapete colorido onde espalhei almofadas confortáveis, comprei persianas novas de bambu, só não pendurei uma reprodução de um quadro do Van Gogh que eu adoro por causa da minha mania de deixar coisas importantes para depois...
É sobre essa mania de deixar coisas importantes para depois que fiquei pensando...
Já há alguns meses, todos os dias que eu chego em casa, vejo que meus cachorros entraram nesse quarto de meditação e mexeram no meu altar, ou destruíram meus patuás, ou fizeram xixi e cocô no tapete.
Toda vez que isso acontece fico brava e, ao mesmo tempo, me sinto culpada achando que eles estão simplesmente reagindo assim porque eu não dou atenção suficiente a eles. Há meses isso se repete, há meses eu tento ensiná-los que ali é um local sagrado e, portanto, proibido para eles e há meses eles continuam me desobedecendo.
O que eu não disse antes é que há meses a fechadura da porta está estragada e há meses, talvez anos, eu devesse tê-la consertado, mas não: me adaptei à porta estragada! Às vezes coloco uma toalha para ver se fica mais difícil para eles conseguirem empurrar a porta e abri-la. Escolhi uma toalha laranja porque é uma cor que traz muita energia positiva. Tive essa preocupação cromática, mas mantive a fechadura da porta como estava: estragada!
Hoje quando cheguei em casa a porta do meu quarto de meditação estava, como tem sido costume, aberta. Para minha surpresa, meus cachorros tinham feito cocô em todo o tapete! Claro que na hora fiquei muito brava e, mais uma vez, me senti culpada por não ter colocado o jornal na varanda como devia, por não ter saído para passear com eles de manhã. Fiquei com raiva dos cachorrinhos, me vitimizei mais uma vez...
Até que uma voz sensata dentro de mim me disse: "Por que você simplesmente não conserta a porta? Nada disso estaria acontecendo dia após dia se você tivesse consertado a fechadura da porta assim que ela estragou". Simples assim!
Simples assim - a ponto de eu rir de mim mesma! E vejo que a gente nem sempre opta pela simplicidade, por cortar os males pela raíz. Cada um com seu motivo: alguns gostam de passar raiva, outros gostam de estar na posição de vitima, outros simplesmente tem uma dificuldade eterna para tomar decisões.
Fico pensando no início do meu texto, quando eu começo falando do processo de limpeza do meu quarto. E me lembro bem que demorei quatro anos para tomar uma decisão que eu devia ter tomado muito tempo antes! Os motivos pelos quais eu não conseguia simplesmente finalizar algo que já estava morto eram vários e não vêm ao caso agora. Muitas vezes ainda olho para trás com a sensação de tempo perdido.
Fato é que, depois de muito tempo, meu quarto sagrado é meu lugar preferido da casa e está completamente livre da energia de quem quer que seja. Ele é o meu lugar. Ele está livre da interferência energética de quem quer que seja, mas não dos cocôs dos meus cachorros ressentidos.
Agora só me restam duas opções: arrumar a fechadura e terminar com essa dor de cabeça diária ou me martirizar eternamente, além de deixar o tapete e as almofadas desbotadas por colocá-las na máquina de lavar roupas toda semana por causa desse inconveniente.
É... Definitivamente está na hora de consertar algumas fechaduras estragadas na minha vida...

sábado, 23 de julho de 2011

Sobre os amores líquidos...

Amores líquidos podem até me deixar molhada, mas a verdade é que eles não hidratam... Pelo contrário, ressecam.
Eu quero mesmo é a (h)UM(an)IDADE das lágrimas e da saliva... 
Eu quero mesmo é ser inundada e flutuar na água, depois do mergulho...

domingo, 10 de julho de 2011

Refletindo sobre reflexos no espelho.



Essa noite sonhei que entre mim e um falcão de penas cinzas havia um vidro espelhado. Nós tentávamos nos enxergar, mas o que víamos eram os nossos próprios reflexos na imagem distorcida do outro. Eu tentava me mostrar para ele, mas ele não conseguia me ver. Eu desenhava o meu rosto, passando as mãos nele, querendo que ele acompanhasse meu movimento, mas ele continuava vendo só a si mesmo. De repente uma mulher chegava e dizia para ele: "Você não consegue olhar para ela? Ela está ali, do outro lado do vidro!".
Achei tão simbólico e pensei logo nas relações que estabelecemos com os outros: tantas vezes não conseguimos enxergar o outro que está ali, se mostrando à nossa frente porque só conseguimos ver a nós mesmos espelhados nas barreiras invisíveis (o vidro frio) que criamos, seja lá por que motivo for.
Acordei triste e fiquei refletindo sobre esses reflexos de nós mesmos que nos cegam para enxergarmos o outro como ele realmente é, nos afastando assim da possibilidade do contato real com alguém que está bem à nossa frente...

terça-feira, 19 de abril de 2011

cotidiano

Peixes tranquilamente roncam bolhinhas de ar no fundo do rio.
Oposta ao sol, que lança um último raio fino no horizonte degradê,
A lua cheia dourada se apruma entre árvores.
Sentada no chão, estou entre o sol e a lua e acima dos peixes:
Numa ponte, miro o céu através da teia de uma aranha.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sobre as flores e as trepadeiras...

Já era ser Hera.
Cansei de grudar, de envolver, de sufocar outras plantas na ânsia pelo abraço.
Agora sou flor.
Caliandra do cerrado. Flor do sol. Lótus azul. Lírio.
Rosa, com cada espinho necessário e com todo o perfume inevitável.
Permaneço imóvel.
Sendo quem Eu Sou.
Quem quiser e se atrever, que experimente o meu néctar.
E ele com certeza é para poucos:
Azedinho-doce, com um amargo quase imperceptível ao final.
Não admito mais vespas nem zangões-zangados me ferroando.
Continuo aberta aos beija-flores mais sensíveis, entretanto.
E também à brisa (os sussurros in(can)descentes),
Aos raios de sol matutinos (as miradas admiradas douradas de êxtase)
E às gotas de orvalho (feitas do mais puro suor).
Sei que é perigoso ser flor: aberta e sem controle.
Mas apesar de frágeis as minhas pétalas e sépalas,
Eu guardo em mim o porvir do fruto
e contenho, assim, inumeráveis sementes futuras:
desse modo, eu sou forte e infinita.
Cansei de ser trepadeira.
Agora sou apenas uma flor
livre do esforço de se enroscar loucamente em outros seres
para existir plena e bela.

domingo, 10 de abril de 2011

Rosa dos ventos

Tatuei em mim uma rosa dos ventos.
Cada pétala metálica aponta para uma direção.
Cada parte de mim caminharia para um lado, separada. Mas assim já foi. Já foi em muitas vidas!
Agora é tempo de que todas as criaturas-criadoras-caminhantes que existem em mim voltem para o centro - para o miolo da flor, ali, onde o néctar e o pólen alimentam o espírito. Só assim, depois de nutrida, minha alma polinizadora poderá seguir a viagem:
Primeiro para o sul, lá, onde o passado, querido professor, me ensina a ir em frente - nua.
A serpente, guardadora desse caminho, sibila me dizendo: arranque suas roupas velhas. Elas já não lhe servem mais! Atravesse sinuosa a Água sem se afogar. Deixe para trás todas as mágoas - elas que são um peso imenso para quem pretende um dia voar.
Depois um passo para o Oeste -  onde me deparo com os meus medos. Vinda nua da direção sul, eu me sento na Terra e me entrego ao silêncio do pôr-do-sol. Contemplo seus raios se despedindo e compreendo a morte do dia como a única possibilidade de contemplar as estrelas.  Mirando-as brilhantes, percebo a infinitude índigo do desconhecido e entendo que para seguir o caminho preciso da força e da confiança das ursas que sabem sair da toca na hora certa .
Em seguida para o Norte - lá, onde o vento toca bem de leve a minha fronte. Onde aprendo que todas as minhas palavras invisíveis se transformam em realidade palpável. Guardo o meu sopro divino com cuidado para não dispersá-lo em vão. Abro os meus ouvidos e escuto atenta uma voz que me diz: siga seu caminho com suas asas de borboleta bem abertas.
Enfim o Leste. Ali, onde o sol e a lua nascem juntos enquanto uma águia corta os céus num vôo magnificamente livre. É primavera. Floresço como um ramalhete de flores de Fogo. Desperto. Me desapego de cada ilusão colhida no caminho. Reconheço a minha verdade. Renasço.
E assim devo ir subindo mais um dos tantos degraus dessa espiral cósmica para onde sou guiada, pois sei que devo seguir sem cessar ( porém fazendo todas as paradas necessárias).
Pego a minha bússola, que é a minha própria voz interior (tantas vezes negligenciada), e me pergunto por onde trilhar os meus caminhos? Pra onde aponta o meu ponteiro? Por onde é melhor que eu vá agora?
A resposta ainda não é clara.
Minha única certeza é a de que eu, Rosa, devo desabrochar aos quatro Ventos.












Veja com seus pés a textura da poeira do tempo.

quarta-feira, 23 de março de 2011

A Estrela




Um ponto quase infinito,
que talvez já não exista mais,
ilumina meu passado e meu futuro.
Cem anos: um milésimo de segundo.
Um milésimo de segundo: a eternidade.
Distante e atemporal a estrela tece sua luz.
Aqui, embaixo, meus olhos - espelhos d'água -
 refletem sorridentes esse brilho peregrino,
que chega prateado, caminhando de tão longe.


sexta-feira, 18 de março de 2011

Gueixa





É só me dares a deixa

que me torno sem queixa

sua adorável gueixa
 
 

quinta-feira, 17 de março de 2011

Desautorizando Cupido



Guarde suas flechas para si, Cupido!
Quem eu amo,
Eu mesma decido!


terça-feira, 15 de março de 2011

Supernova



Um buraco negro 
se transforma em supernova.
Aos olhos dos astrônomos:
 Impossível! Inimaginável!
Aos olhos do poeta:
improvável é não transformar
a fome insaciável do vazio em radiante criação.


quinta-feira, 10 de março de 2011

Arqueologias



Lembrei-me hoje da primeira vez em que fui a uma Terra Indígena na minha vida – Abril de 2005, frio de cinco graus, Votouro, Rio Grande do Sul. Eu com seis anos a menos, viajando pra longe, sozinha, com o coração partido, no meio de uma separação, no meio de uma paixão nova e desconcertante, perdida entre o certo e o duvidoso...

Engraçado como algumas memórias simplesmente somem e, por um período, é como se alguns momentos nem tivessem existido, por mais importantes e significativos que tenham sido. Tenho a impressão de que eu sempre dou menos valor a eles do que eles merecem... Talvez isso se deva ao fato de eu não ter estado ali por inteiro, por ter estado pensando no que faltava, sem perceber que no fundo, tudo o que era necessário residia ali, naquele instante. Ou, quem sabe, eu apenas tenha uma memória ruim...

O que importa é que hoje eu revivi essas lembranças indígenas assim, de repente... Provavelmente porque passei alguns dias tão imersa na natureza que foi inevitável me lembrar do contato com culturas que estão tão intimamente ligadas a Ela.

Cavoucando mais um pouco esse passado, vasculhei cancerianamente todas minhas gavetas e, além das fotos da primeira vez que visitei uma aldeia, achei impressões esquecidas num caderno de folhas azuis de quando eu estava me despedindo da FUNAI, na minha última viagem feita por lá:

“Myky... longe, no meio do Mato Grosso. Sem luz, sem água encanada, quase como há anos atrás (tirando as roupas e o orelhão no meio da aldeia).


Incrível sentir tantos cheiros – a cada ângulo entre a cabeça e o pescoço um odor diferente: das flores de limão, das flores de caju, da terra seca, da fumaça, do cerrado...


À noite, lua quase cheia clareou os caminhos. Todas as estrelas apareceram quando as mulheres ninaram o tempo, o vento e as crianças nos ventres das mães-meninas. Todas as estrelas brilharam quando os mais velhos tocaram suas flautas de cinco notas.


Eu não pensei em nada. Só apreciei cansada, querendo ir pra minha rede dentro da oca de palha trançada. E, não sei por quê, de repente olhando para o céu chorei vendo a imagem da Nina (minha cachorrinha falecida) no véu fino de nuvens.


No meio do Mato Grosso, na aldeia dos Myky.


Nunca me esquecerei desse cheiro de flores me visitando a toda hora inesperada.”

E por mais que eu tenha escrito isso, por cinco anos eu me esqueci do cheiro das flores me visitando a toda hora inesperada... E hoje, felizmente, vieram até mim essas recordações.

Fiquei emocionada me lembrando desses dias suspensos em algum tempo-espaço e, de algum modo, mesmo que eu os tenha olvidado até então, eles fazem parte de quem eu sou hoje. E que bom que agora, nesse momento, eu me dou conta de tudo isso – afinal, como a natureza que eu reaprendo cada dia mais a reverenciar com todo o meu amor e respeito, eu também sou feita de ciclos...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O imprevisível é inevitável...


Passa aquela figurinha de sempre que lê a sorte nas mesas de bar do plano piloto e me pergunta: "Quer ler o passado e o futuro?" 
Respondo: " não, quero estar no presente".
Passa, depois de dez minutos, e pergunta de novo: "não quer ler a sorte?"
Respondo: "não, quero que a sorte me leia." 
Me desculpe, cartomante, mas prefiro a inevitabilidade do imprevisível.

“Urano, o rebelde” em oposição a “Saturno, o conservador”, em quadratura a “Plutão, o transformador” e os conflitos no mundo árabe.


(Banksy)


“Urano, o rebelde” em oposição a “Saturno, o conservador”, em quadratura a “Plutão, o transformador”. Na era de aquário.

De acordo com a astrologia, 2012, entendido como o fim de um mundo e o nascimento de outro, começou antes, com a formação de uma grande cruz no céu de agosto de 2010.

Essa grande cruz é caracterizada por uma oposição e duas quadraturas – aspectos considerados como os mais desafiadores para a astrologia.

Não bastasse já serem aspectos desafiadores, eles envolvem astros cujas energias são bem antagônicas: em batalha estão os titãs Urano e Saturno – o Rebelde e o Conservador, respectivamente. Mediando essa disputa celeste entre o velho e o novo, entra Plutão, o senhor da morte, do renascimento e das transformações – juiz mais apropriado não poderia existir, afinal, ele é juiz do juízo final...

Tudo isso acontece em meio à chegada da tão celebrada “Age of Aquarius”, a era do signo que “coincidentemente” é co-regido pelos dois titãs em questão! Incrível!

Ou seja, no ringue onde acontece o embate Urano x Saturno, pairam as energias aquarianas que se caracterizam pelo futurismo, rebeldia, pela quebra de valores convencionais, pela tecnologia, pela informação, pelo amor às causas humanitárias e principalmente pelo anseio pela liberdade. (Não à toa, à medida que essa era se aproxima [ou ela já é?], a internet ganha cada vez mais força e o mundo tende aos poucos a ir perdendo fronteiras [mas que não perca jamais a sua pluralidade!] ).

E no meio disso tudo, ou melhor, como resultado disso tudo, conflitos eclodem: Egito, Líbia, Bahrein, Iêmen...

O povo (Aquário) se rebela (Urano) contra os regimes conservadores, limitadores e controladores (Saturno). A internet (Aquário) é notadamente um dos meios mais usados para a articulação dos manifestantes destemidos e furiosos (Áries) que buscam por condições mais justas de vida (Libra).

Round One: Urano 1 X Saturno 0: é derrubado o regime de Mubarak.
Round Two: Urano 1 X Saturno 1: os governos começam a CENSURA à internet
Round Three: Urano 2 X Saturno 1: pessoas ao redor do mundo se articulam para burlar a censura e contribuir com a busca dos rebeldes por liberdade e condições mais dignas de vida.
Round Four: ?

Como em uma boa briga, existem recuos e avanços estratégicos: Urano saiu temporariamente de Áries, signo combatente e bélico e retrogradou para peixes, signo mais compassivo, enquanto saturno manteve-se firme em libra. Agora em março Urano volta para Áries. Sua chegada já está sendo sentida. O confronto se acirrará ainda mais. (Isso porque eu não mencionei que o expansivo e exagerado Júpiter estará também em Áries, ao lado de Urano, encorajando-o a não desistir jamais do combate!).

E a luta continuará... Esse exemplo do oriente médio é só um exemplo de tudo o que está acontecendo e ainda vem pela frente.
E no meio disso tudo está Plutão, atento à luta. Com a sua foice pronta para cortar todas as cabeças que forem necessárias.

Que o resultado desse embate seja mesmo transformador e, mesmo que isso não seja tão do feitio de Plutão (por sorte ele está no parcimonioso, racional e pragmático signo de capricórnio), que ele promova a conciliação entre o velho e o novo - entre a sabedoria saturnina e a inovação e rebeldia uranianas (afinal nada é somente bom ou somente ruim e queremos heróis antes de corajosos, sábios) para que de fato em 2012 (ou seja quando for) do mundo tal qual o conhecemos, nasça um novo mundo possível, onde reine a paz, o amor, a liberdade e a consciência.

Um mundo onde o ser humano alcance de fato a sua humanidade, um mundo e em que o respeito a si mesmo e ao outro (compreendido em todos os reinos: mineral, vegetal e animal) seja a única regra fundamental a ser seguida.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Virando o disco, mudando de estação, trocando o canal, ejetando o dvd...

"Tell me, what is my life without your love
Tell me, who am I without you, by my side."

Saí da terapia e liguei o som. Essa música do meu beatle favorito, o George Harrison, tocava.
Estava cantarolando a letra quando me dei por mim e vi o que ela dizia e o que a maioria das músicas e filmes e novelas dizem! Um disparate! Simplesmente um disparate! "Me diga o que é a minha vida sem você. Me diga quem sou eu sem você ao meu lado"?.
Bem,eu discutia justamente sobre isso com a minha terapêuta e então pensei "Meus deus! Será que a nossa cultura ocidental só produz arte pela desilusão ou pela dependência emocional?".
É por essas idéias que nossa mente é invadida desde criança nos contos de fada, nos filmes românticos, quando ligamos o rádio, quando compramos um CD. Isso vende e envenena bastante.
Nunca ouvi uma música de exaltação ao amor-próprio ou à independência emocional a não ser aquela do Ultraje a Rigor: "Eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim..." e mesmo assim, as pessoas normalmente achariam um declaração dessa arrogante ou egocêntrica - porque realmente não é o usual ouvir isso!
Passei um tempo racionalmente condenando esse romantismo exacerbado da cara-metade, do amor que tudo pode e a todos salva, mas ele também está impregnado em mim, nas minhas células. Racionalmente tenho um discurso, mas na prática outra atitude.
Mas de uns dias pra cá, acho (ou mais que isso, espero do fundo do meu coração), esse padrão finalmente está começando a ruir. Me sinto literalmente enjoada quando escuto ou leio esse tipo de coisa.
Dias desses eu estava lendo um escrito de George Sand para um de seus amantes, o Musset. O que normalmente eu chamaria de um escrito arrebatador e apaixonado, mesmo que completamente insano, me fez ter reações corporais estranhas. Falta de ar, enjôo, quase repulsa, igualzinho a quando a gente come doce demais e então nos oferecem mais um pouquinho e a gente sente náuseas.
Vi aí que algo estava mesmo mudando em mim: Cansei. Enjoei.
Agora quero ser contra-cultura romântica. Quero aprender a amar com base em outros referenciais, até mesmo porque eles existem. Chega!
George Harrison que me perdôe, mas vou pular essa música das próximas vezes que ela tocar. Ou quem sabe, isso não me inspire a escrever outras versões pra essa (a minha) história:
Tell me who am I without myself? Ou melhor: Tell me who am I with you by my side without myself within?

Ser feita da mesma substância de que são feitas as estrelas e, ainda assim, ser humana...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mulheres famintas




Dia desses tive um sonho em princípio engraçado. Sonhei em quadrinhos - quadrinhos da minha infância - Turma da Mônica.
Nesse sonho colorido, em determinado momento eu abria a porta de um guarda-roupas e de lá saía a Magali, segurando o coelhinho azul da Mônica. E ela me dizia: NÃO CRIE EXPECTATIVAS!
Esse sonho não saiu da minha cabeça por dias. Até mesmo porque eu sou mestra em criar expectativas. Eu sabia que a mensagem do sonho não era somente essa. Por que a Magali? Por que o Sansão na sua mão? Por que ela estava presa em um guarda-roupas?
Pois bem, Magali é a personagem faminta do Maurício de Souza. O Sansão é a arma da Mônica com a qual ela bate nos meninos. E o guarda-roupas pode ser entendido como um cativeiro.
No dia em que compreendi isso, ituitivamente peguei o meu livro "Mulheres que correm com os lobos" e abri no capítulo " A preservação do Self: A identificação de armadilhas, arapucas e iscas envenenadas".
Nesse capítulo a autora, Clarissa Pínkola Estés, fala sobre a história de Sapatinhos Vermelhos, sobre a "hambre del alma", sobre como essa fome insaciável (tal qual a fome da Magali do meu sonho) por algo profundo pode nos levar a engolir iscas envenenadas pelo caminho ou mesmo a ignorar comidas saudáveis que também podem estar se apresentando a nós.
Pois bem: Passei os último dez anos da minha vida procurando desesperadamente o amor (e escrevo isso com lágrimas nos olhos) e o mais triste é que acho que em nenhum momento eu me alimentei da forma mais adequada.
Nessa ansiedade de buscar sempre fora de mim algo que me completasse, fui me desnutrindo, me envenenando, permitindo ser mal tratada e nem percebi que estava cada vez mais afastada da minha natureza saudável.
A sorte das mulheres como eu (e elas são muitas)é que mesmo nesse massacre inconsciente, ainda nos resta um pouco de sabedoria que nos fala baixinho, por meio principalmente de sinais em nosso corpos e almas: uma tristeza que não passa, dores e doenças inexplicáveis, insônia, brabeza, raiva, explosões, cabelos que caem, insatisfação interminável.
É claro que podemos ignorar tudo isso e continuar nos envenenando, mas podemos escolher mudar a nossa alimentação, nos livrar dos nossos vícios.
Depois de muito tempo sendo mal alimentadas, de passar fome afetiva nesses tantos cativeiros nos quais ingenuamente ou loucamente nos metemos,o que acaba acontecendo é que a gente sai vorazmente devorando o que encontramos pela frente e normalmente esse alimento não passa de ilusão que só nos gera mais ansiedade.
Mesmo assim, estamos livres. Medrosas, mas livres. Reaprendendo a andar fora da jaula em que estivemos presas. Reaprendendo a só querer comer carne fresca, na quantidade suficiente. Aprendendo finalmente que ninguém além de nós mesmas é capaz de prover a comida mais deliciosa, suculenta e adequada para as nossas almas.
Confesso que há meses tenho arrotado e regurgitado o ranço dessa alimentação péssima à qual estive submetida (e que em certa medida com a qual eu me contentei e me submeti).
Me sinto presenteada pelo meu inconsciente quando ele me apresenta esse desenho engraçado de mim mesma mesma, pois vejo aí a possibilidade de mudar um padrão que me desgasta há tempos.
Foi assim que eu resolvi entrar em DIETA. Eu só quero comer o que me faz bem, e mesmo assim, com moderação.
Eu quero me alimentar dos meus dons, dos meus talentos, da minha criatividade, da minha alegria.
É claro que quero sobremesas que adocem a minha existência. Eu quero várias cerejas de bolos, chocolate quente nos dias frios e sorvetes adocicados nos dias de calor. Quero colher frutas maduras, não as comerei mais antes do tempo ou quando elas já estiverem podres.
E sei que só posso aceitar essas sobremesas deliciosas e tentadoras se, além delas serem feitas com os melhores ingredientes possíveis, eu antes tiver comido direitinho a minha própria comida, feita pelas minhas próprias mãos, seguindo a minha própria receita mágica, usando o meu caldeirão,minha colher de pau e o meu próprio fogo transformador.
Que seja assim.
Como diria a scarlett de "E o vento levou": Eu jamais sentirei fome novamente! Pelo menos não essa fome desmedida e destrutiva que de vez em quando nos acomete.
Esse é um post-nutricionista. Mulheres, já nos aconselhavam nossas mães e avós: ALIMENTEM-SE BEM!

Versos Livres

Eu gosto mesmo é dos versos livres.
Re-versos, di-versos, in-versos, uni-versos plurais.
Não gosto de ter que fazer rima a não ser que ela surja espontâneamente e traga musicalidade para a escrita, porque é aquilo o necessário naquele exato momento.
Eu gosto da liberdade de colocar as palavras fora de lugar, porque para mim a poesia tem a função justamente de tirar-nos do comodismo, da sonolência da alma e de lembrar que tudo se cria, até mesmo novos sentidos para velhos símbolos e significados.
O poeta livre tem que ser um desorganizador, uma pessoa insubmissa às regras, inclusive às gramaticais.
Eu gosto do Manoel de Barros. Gosto das palavras inventadas que ele mistura às outras que aparentemente não fazem sentido quando misturadas no seu texto. Eu gosto de ler quando ele diz que os sapos e as rãs falam de poesia. Estou totalmente de acordo.
A poesia não se prende aos limites das palavras, do papel, da mente. A poesia existe o tempo todo em todos os lugares.
Eu mesma prefiro a poesia sinestésica de um beijo ou de mil delírios arrepiantes. Eu prefiro a falta de ar que me dá estar apaixonada, aos dodecassílabos românticos e consagrados em páginas amarelas dos séculos passados.
Prefiro não ter que fazer sentido e sentir tudo o que eu desconheço com a pele, com a vista desembassada ou com a vista turvada por lágrimas – e que no meu papel, que pode ser o meu próprio corpo ou o meu odor ou o meu gosto, estejam impressas apenas algumas impressões inacabadas.
Poesia pra mim é beleza e a beleza não tem a ver só com o que é bonito, tem a ver com aquilo que nos tira de nós, que nos faz em algum canto da alma lembrar que a vida e o mundo são multidimensionais.
Eu gosto de começar a pensar desenfreadamente até que meu coração palpite e eu perca o fôlego. Eu gosto de estar fora de mim enquanto faço isso, porque é só assim que eu me adentro.
E eu gosto da poesia dos sons que não são palavras, da poesia das imagens que a minha retina ainda não conhecia.
Acho que é disso que precisamos: mais da sensibilidade poética das pessoas do que da poesia em si, que de toda forma existe independentemente dos poetas.
O mundo está carecendo mesmo é desse tipo de olhar sobre o mundo. Do olhar que reconhece a beleza de tudo o que existe e a compartilha como uma fonte luminosa de águas que hidrata a alma seca de todos nós e nos traz esperança e conforto em gotas de otimismo lírico e onírico.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Vaidosa




Pus-me bonita para você me ver passar,
Escolhi a cor certa, o tom mais reluzente
Pro brilho dos meus olhos.
Dexei o cabelo cair pro lado, desacostumado.
A cor da minha boca ficou contente,
No meu rosto, vermelhas maçãs-de-amor sem blush.
Unhas de gata malhada - sem base!
Sombreadas piscadelas me escaparam
E meus cílios sinceros se alongaram tentando te avistar...
Brotou de mim um convite,
Mas passaram horas, passou o dia,
Passou o momento de você me ver passar
E eu fiquei passada!
Com a alma amarrotada,
Estilosamente cheia de saudades de te encontrar...

Escrito de 2007 - além de mim, os anos também passaram...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

“Jackpot” (ou o amor não é um jogo)



Nunca tive sorte no jogo.
E por não ter querido aprender a jogar, criei essa mania de arriscar todas as minhas fichas de uma vez, porque para mim, viver não é uma questão de ganhar ou perder, e sim de ser inteira: “full house”, “all-in”.
Diz o ditado que: azar no jogo, sorte no amor. Sim, desde que o amor não seja visto como um jogo. Afinal, no jogo o outro é um adversário. No amor, se isso acontece: “drawing dead”- está tudo perdido! 
No amor não se pode ser calculista, não há blefe: os olhos não conseguem mentir, as faces ruborizam enquanto as mãos tremem de emoção e as palavras se embaralham na boca que só quer o beijo.
O jogo é poder. O amor é se perder.
Pelo menos é nisso que eu quero continuar apostando.

Glossário para os que, como eu, são leigos na arte do jogo:

Jackpot
Um prêmio atribuído a um jogador que cumpre uma série de pré-requisitos. Por exemplo, alguns cassinos atribuem um jackpot a alguém que obtém uma quadra ou superior e perde.
Full House
Uma trinca e um par. Também conhecido como Full Hand ou Full.
All-in
Ir fundo. Quando um jogador aposta todas as suas fichas em uma determinada mão.
Drawing dead
Tentativa de projeto para uma mão que mesmo bem sucedido não tem hipotese de ganhar o pot.

sábado, 8 de janeiro de 2011

E o vento levou...



Vão-se os lenços,
Fica a jugular
E o sangue que corre nela.





sábado, 1 de janeiro de 2011

Amanheceu o novo ano!

Lágrimas nos olhos, emoções, fogos de artifício, batuque, água, gente, orixás, velas, champagne, flores, incensos, desejos, muitos desejos, principalmente o desejo de saber desejar. E eu. Eu sozinha e inteira.
E depois que as velas queimaram, que as flores foram ofertadas no lago, depois de contemplar mamãe Oxum (com a espada na mão - que eu descobri que sou filha daquela Oxum que também é Iansã!), de vibrar com cada explosão de fogos, comi um acarajé, olhei tudo em volta e, antes que a chuva fina ficasse mais grossa, atravessei a ponte Costa e Silva, entrei no carro estacionado longe e voltei pra casa. E no meu caminho de volta eu me senti tão bem, tão inteira que eu pensei: a iluminação deve ser algo parecido com isso. Não há falta, só completude.
Acho que no final, nos últimos minutos do ano eu consegui realizar o meu desejo primordial de 2010: aprender a solitude.
Gratíssima ao uni-verso, infinitamente criando poeticamente o novo.