sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mulheres famintas




Dia desses tive um sonho em princípio engraçado. Sonhei em quadrinhos - quadrinhos da minha infância - Turma da Mônica.
Nesse sonho colorido, em determinado momento eu abria a porta de um guarda-roupas e de lá saía a Magali, segurando o coelhinho azul da Mônica. E ela me dizia: NÃO CRIE EXPECTATIVAS!
Esse sonho não saiu da minha cabeça por dias. Até mesmo porque eu sou mestra em criar expectativas. Eu sabia que a mensagem do sonho não era somente essa. Por que a Magali? Por que o Sansão na sua mão? Por que ela estava presa em um guarda-roupas?
Pois bem, Magali é a personagem faminta do Maurício de Souza. O Sansão é a arma da Mônica com a qual ela bate nos meninos. E o guarda-roupas pode ser entendido como um cativeiro.
No dia em que compreendi isso, ituitivamente peguei o meu livro "Mulheres que correm com os lobos" e abri no capítulo " A preservação do Self: A identificação de armadilhas, arapucas e iscas envenenadas".
Nesse capítulo a autora, Clarissa Pínkola Estés, fala sobre a história de Sapatinhos Vermelhos, sobre a "hambre del alma", sobre como essa fome insaciável (tal qual a fome da Magali do meu sonho) por algo profundo pode nos levar a engolir iscas envenenadas pelo caminho ou mesmo a ignorar comidas saudáveis que também podem estar se apresentando a nós.
Pois bem: Passei os último dez anos da minha vida procurando desesperadamente o amor (e escrevo isso com lágrimas nos olhos) e o mais triste é que acho que em nenhum momento eu me alimentei da forma mais adequada.
Nessa ansiedade de buscar sempre fora de mim algo que me completasse, fui me desnutrindo, me envenenando, permitindo ser mal tratada e nem percebi que estava cada vez mais afastada da minha natureza saudável.
A sorte das mulheres como eu (e elas são muitas)é que mesmo nesse massacre inconsciente, ainda nos resta um pouco de sabedoria que nos fala baixinho, por meio principalmente de sinais em nosso corpos e almas: uma tristeza que não passa, dores e doenças inexplicáveis, insônia, brabeza, raiva, explosões, cabelos que caem, insatisfação interminável.
É claro que podemos ignorar tudo isso e continuar nos envenenando, mas podemos escolher mudar a nossa alimentação, nos livrar dos nossos vícios.
Depois de muito tempo sendo mal alimentadas, de passar fome afetiva nesses tantos cativeiros nos quais ingenuamente ou loucamente nos metemos,o que acaba acontecendo é que a gente sai vorazmente devorando o que encontramos pela frente e normalmente esse alimento não passa de ilusão que só nos gera mais ansiedade.
Mesmo assim, estamos livres. Medrosas, mas livres. Reaprendendo a andar fora da jaula em que estivemos presas. Reaprendendo a só querer comer carne fresca, na quantidade suficiente. Aprendendo finalmente que ninguém além de nós mesmas é capaz de prover a comida mais deliciosa, suculenta e adequada para as nossas almas.
Confesso que há meses tenho arrotado e regurgitado o ranço dessa alimentação péssima à qual estive submetida (e que em certa medida com a qual eu me contentei e me submeti).
Me sinto presenteada pelo meu inconsciente quando ele me apresenta esse desenho engraçado de mim mesma mesma, pois vejo aí a possibilidade de mudar um padrão que me desgasta há tempos.
Foi assim que eu resolvi entrar em DIETA. Eu só quero comer o que me faz bem, e mesmo assim, com moderação.
Eu quero me alimentar dos meus dons, dos meus talentos, da minha criatividade, da minha alegria.
É claro que quero sobremesas que adocem a minha existência. Eu quero várias cerejas de bolos, chocolate quente nos dias frios e sorvetes adocicados nos dias de calor. Quero colher frutas maduras, não as comerei mais antes do tempo ou quando elas já estiverem podres.
E sei que só posso aceitar essas sobremesas deliciosas e tentadoras se, além delas serem feitas com os melhores ingredientes possíveis, eu antes tiver comido direitinho a minha própria comida, feita pelas minhas próprias mãos, seguindo a minha própria receita mágica, usando o meu caldeirão,minha colher de pau e o meu próprio fogo transformador.
Que seja assim.
Como diria a scarlett de "E o vento levou": Eu jamais sentirei fome novamente! Pelo menos não essa fome desmedida e destrutiva que de vez em quando nos acomete.
Esse é um post-nutricionista. Mulheres, já nos aconselhavam nossas mães e avós: ALIMENTEM-SE BEM!

2 comentários:

Maria Cláudia Cabral|Aika disse...

Você leu a minha alma.

euamoaju disse...

Que lindaaaaaaaa!
Vc ta escrevendo muito, e lendo nossas almas, como disse a Maria ai!
adorei, adorei, adorei!
E bom apetite, menina!