segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Vagueando

Me pousou uma libélula no dedo indicador esquerdo hoje à tarde.
Ela era pequena, preta, com todos os detalhes em azul royal.
Ficou por quase um minuto sentindo o meu cheiro, ou a minha pele, ou simplesmente descansando em mim seu olhar de milhares de olhos em um só.
Tinha quase me esquecido desse instante minusculo-milagroso  que por alguns segundos permitiu a comunicação entre dois seres que se miraram e provavelmente viram coisas absolutamente distintas!
Depois desse quase minuto de mútua contemplação, a libélula se foi... Para tão longe que eu quase me esqueceria dela.
Mas agora escrevendo, me lembro exatamente dos detalhes que ela me permitiu conhecer por não ter voado fugitiva, assustada com o vento forte do meu hálito exclamativo, que para ela poderia ser como um tufão feito de ventos mornos.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Chuva



Uma lágrima cai:
Meus olhos molhados
Guardam a chuva



terça-feira, 9 de novembro de 2010

俳句

Vontade
de escrever
um Haikai


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Bom-Tom



Do outro lado da linha
Uma revoada de pássaros tece o céu
com assobios feitos para me alegrar.
Do lado de cá: surpresa!

(num dia melancólico de nuvens cinzas.)

Por minutos eles gorjeiam, quase estridentes,
sons que saem das suas mãos.
O que eles cantam, eu não sei.
Apenas ouço e fico en-cantada com o seu bom-tom,
Querido Sol sustenido.
 
 
* em homenagem a uma pessoa que me en-canta em todos os seus tons solares

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Con-sentido.

Um som confuso ecoa do seu olhar:
estrelas cintilantes perdidas no universo vagueiam com a poeira cósmica
depositada nos cantos mal varridos da casa.
                    ***
Uma melodia bonita brota da palma das suas mãos.
A escuto pelos meus poros enquanto elas passeiam
desconhecendo os meus caminhos.
                   ***
Me comove o seu perfume de vaga-lumes tristes
e então lágrimas quentes de espanto escorrem
como gotas destiladas que me tatuam com o seu calor.
                    ***
Adormecendo, sinto todos os seus sentidos misturados nas pontas dos seus dedos:
Cometas inquietos e errantes me seduzem em slow motion.
Vejo o desenho deles no céu da sua íris.
                   ***  
Inquieta flutuo dentro de mim quando seus lábios-casulos pousam nos meus.
Sorrio efêmeras borboletas douradas de espanto e graça -
um som bem leve de asas voando na velocidade da luz se cala.           
                   ***  
Sonolenta, só penso em me demorar em todas as sensações descabidas e inacabadas.
Esfrio por dentro.
Não durmo, tampouco estou acordada.
                   ***
Fecho os olhos e por frações de segundos
me decomponho em pétalas de girassóis escandalosos,
Exuberantes.
                   ***
Abro a boca.
De lá de dentro vem um rugido manso esbravejando sabores
amarelo-manga.
                   ***
Eu me pergunto se você gosta do meu gosto.
Se você sente o desejo amargo-adocicado
que pulsa na minha pele.
                   ***
Se o tom da minha voz agrada a sua língua,
se você ouve o mantra mudo que eu entôo
ao soprar fumaça no ar quase úmido de primavera.
                   ***
Uma imagem pacificadora nasce com seus cabelos brancos
invisíveis a olho nu.
Finalmente não há mais perguntas e nem respostas.
                  ***
Eu me calo pra sentir, enfim,
o que eu sinto
e nem sei...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Abalo Sísmico


O coração do Brasil
Foi abalado
E eu fiquei Cismada.



quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Meditação preguiçosa

Dos meus ossos brotam palavras que não se articulam. Elas apenas pulam e correm, deslizam e dançam. Nada querem dizer. Se recusam a fazer sentido.
Independentes de mim, elas rodeiam algo parecido com o meu cérebro. Cochicham sílabas inacabadas. Flutuantes elas me transtornam levemente com a sua existência que não serve para nada.
Minhas pálpebras se fecham levemente, lutando contra minha vontade de me manter acordada.
É nessa batalha preguiçosa que as tais palavras desarticuladas vão se embrenhando em mim.
Carregadas pela minha corrente sanguínea, elas vagam vagarosamente me contando absurdos, enquanto irrigam minha mente com quase-idéias.
Eu observo e escuto quietamente. Nem penso em tentar compreender e, na verdade, nem quero pensar em tentar compreender...
Apenas permaneço encantada por essa canção de ninar subliminar feita de palavras incertas e bobas.
Satisfeita, continuo dormindo de olhos abertos...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Manuelesca, ou amando os caracóis (dos meus cabelos)

(Hoje eu acordei me sentindo uma poesia do Manoel de Barros.)

Pensei doidices, amei citrinos e cuspi ágatas de fogo.
Passei a mão nos caracóis dos meus cabelos
E senti cócegas no fundo do labirinto que mora nos meus ouvidos.
Só então ouvi segredos da primavera.
E ela me disse: gargalhe em tons cor-de-rosa!
Engula os tons pastéis do inverno e arrote andorinhas piadeiras!
Saboreie as romãs como fazem os beija-flores que moram atrás da sua janela
ao fazerem amor-brincadeira com elas.
Esteja transbordando mais do que a si mesma.
Lacrimeje suas emoções rodopiantes
e suspire lucidamente os diamantes que habitam em você.
Foi isso que  ouvi ao percorrer silenciosamente o tal labirinto que mora nos meus ouvidos,
enquanto avistava em azul as primeiras pétalas de asas de insetos mortos
voando carregadas nos braços da brisa perfumada da manhã de sol sustenido.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Decisão de ano novo


Mil quetzales cantam em minha alma.
Escondidos dentro de mim, voam e me fazem cócegas com suas plumas de arco-íris.
Essas serpentes-pássaros que me habitam agora
só se mostrarão àqueles que conseguirem me enxergar para além de minhas máscaras,
Para aqueles que ousarem consentir a transformação das troca sinceras e reais.
Que voem leves como nuvens coloridas!
Que pulem camuflados nos galhos da frondosa árvore da minha vida
E sejam vislumbrados somente por quem busca um verdadeiro encontro.
Não me mostro mais a quem não tem olhos para enxergar o belo, o mágico e o raro:
Para quem tem esse tipo de olhar desatento, já existe todo o resto do mundo...


Obs.: O Quetzal é um belo pássaro de plumagem verde-esmeralda com reflexos dourados. Sua cauda longa ondula quando ele voa. É símbolo de liberdade e usualmente quando em cativeiro se mata. Às vezes, é chamado de "serpente de penas". Ele foi considerado um pássaro sagrado por algumas culturas pré-hispânicas. É uma ave muito rara de se ver.

domingo, 15 de agosto de 2010

Mais sobre o silêncio


Le Silence

Tanto significa o silêncio... o teu...
Um consentimento, uma recusa ou simplesmente uma pausa que suspende meus desejos, meus tremores de mão e pára meu coração no céu da boca (antes fosse nos teus lábios) ...
Um adeus sem palavras, sem intenção... dado por circusntâncias vazias, sem melodia, que o destino criou sem querer...
Tantos significados e talvez nenhum ( talvez tenhas te calado para mim e pronto!)
Espero chegar o dia em que não haja mais talvezes, em que silencie também a dúvida nos meus pensamentos, que eles sejam apenas um mantra colorido e mudo,
Afinal, as palavras cantam quase nada...  


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Ode ao silêncio



É em silêncio aparente que sementes germinam, garras verdes de trepadeiras se enroscam lentamente buscando seu alimento-luz e pétalas caem, uma a uma, para que flores dêem lugar a doces frutos.
Sem palavras, sem ruídos, sem pranto ou risadas audíveis tudo muda.
O segredo, a espera, o não-dizer mantém a energia necessária para que todas as transformações aconteçam.
Nenhuma borboleta completa sua metamorfose fazendo barulho. Elas ficam caladas por fora e cantando por dentro, e é essa canção de silêncio, pausa musical necessária em uma partitura infinita, que inspira o novo.
Silêncio! Psiu!
Que os nossos corações e ouvidos escutem profundamente o que a ausência de palavras nos conta, o que os tons desconhecidos de uma cantiga invisível nos revelam quando vibram docemente nos tímpanos das nossas almas.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Ê-X-T-A-S-E-R-O-S



            corpo  cansado      
    alma  acesa     
    em brasa





quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pornografia

                                    (Gravura de Hokusai)

"Nossa cultura gera a maior parte de sua pornografia motivada pelo ódio ao corpo - mas, como em certas obras orientais, a arte erótica em si mesma cria um veículo elevado para o aprimoramento do ser/consciência/glória. Um espécie de pornô tântrico ocidental poderia ajudar a galvanizar os cadáveres, fazê-los brilhar com uma pitada de glamour do crime."

(Hakim Bey in Caos Terrorismo Poético e outros crimes exemplares)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Planeta Mar



As águas de dezembro de 2012

Engraçado que, apesar de desde pequenininha escutar que dessa vez o mundo acabaria em fogo, há muito tempo que sonho com água, muita água. E nelas baleias, golfinhos, águas-vivas e tubarões.
Às vezes tenho medo das ondas gigantes que me fazem acordar sem fôlego, outras vezes não queria mais ter que abrir os olhos e me despedir dos golfinhos que passeiam em alta velocidade comigo pelo mar. (Engraçado... eu nunca vôo nos meus sonhos, sempre mergulho e flutuo).
Dizem que por causa das ações inconscientes dos homens, geleiras estão derretendo, trazendo mais água ainda para os oceanos. O calor do fogo está aumentando e elas estão se liquidificando... Nesse caso, sim,  indiretamente o mundo “acabará” por causa do fogo. Inund-ação!
Vi esses dias um filme lindo e poético chamado “Oceans”. Quanta beleza! Quantas vidas submersas inimagináveis! Quanto mistério!
Lembrei de várias mitologias que dizem que a vida surgiu da água – como Vênus, a deusa do amor, nasceu da espuma do mar...
Até mesmo os cientistas afirmam que tudo nasceu do caldo quente que tomava toda a Terra há milhões de anos atrás. Tudo era líquido antes...
Pensando em tudo isso, no fogo, nas águas (símbolo das nossas emoções), nos oceanos e nos sonhos, acho que não haverá fim do mundo em 2012.
Os peixes continuarão existindo, os plânctons também. As tartarugas marinhas continuarão circulando e as águas-vivas continuarão a sua dança hipnótica. As enguias continuarão venenosas e as arraias seguirão voando graciosas e aquáticas.
Nós, habitantes terráqueos e terrestres não estaremos mais aqui – mas seria isso o fim do mundo?
Quem sabe não seja apenas o final do planeta Terra e o início de um planeta Mar?
Isso seria apenas o retorno ao início de tudo...

sábado, 3 de julho de 2010

Conselhos do Oráculo do Sol



Eu e minha amiga Regina nos sentimos na obrigação de compartilhar aquilo que nos foi revelado pelo oráculo do SOL a respeito do amor e do desejo.
São nada mais do que sábios conselhos que poderão confortar as almas românticas ou alertar as almas que se fecham às maravilhosas experiências que o amor pode oferecer aos nossos corpos e espíritos.
Salientamos que o amor ao qual se refere o oráculo diz respeito tanto ao nobre sentimento cultuado desde a época dos trovadoristas do século XII, quanto àquele tipo volúvel e delicioso que desaparece em um piscar de olhos depois de nos dar frios na barriga inesquecíveis.
Para ambos os casos os conselhos do oráculo são os mesmos, acrescido de um, há muito tempo por nós conhecido, apesar de pouco praticado: CARPE DIEM!



Conselhos do Oráculo do Sol
(Pra quem não sabe amar, deixar-se amar ou simplesmente ter uma boa noite de sexo devido a caraminholas excessivas)

1. Perca o amante, mas não perca a piada
2. O contato não precisa de contrato e sim de improvisação*
3. Declarações de uma alma romântica são, antes de mais nada, declarações de amor ao próprio amor (não se sinta pressionado), assim como o desejo de uma alma romântica é o desejo pelo próprio desejo em primeira instância.
4. Carinho não é carência (as manifestações espontâneas de carinho devem ser encaradas como dádivas. Apenas agradeça sem julgamentos)
5. Entregue-se! (via sedex 10 de preferência)
6. Permita-se ser amado/admirado/desejado lembrando que não existe obrigação de corresponder aos sentimentos alheios. (Mas jamais crie expectativas que não poderão ser correspondidas!Isso seria leviano)
7. A monogamia é prejudicial aos relacionamentos
8. Não me reprima! Não se reprima!
9. Enterre seu passado junto com os seus pudores
10. O amor deve ser provocador e belo
11. A fila inevitavelmente anda.

* Essa é uma adaptação da celebrada e genial frase inventada pela nossa querida Carol há alguns anos atrás.

sábado, 26 de junho de 2010

Esse caminho é só meu...

                                                       (as linhas da minha vida)

Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

(Trecho de "Despedida", de Cecília Meireles)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Blessing my Bliss!

Cosmos

Sonhei acordada que dançava com a lua e que ela me soprava estrelas no ventre e no vento.
As estrelas dançavam comigo e se transformavam em mariposas prateadas. Da palma da minha mão brotavam rosas brancas que eu espalhava por todos os cantos.
De repente eu estava escalando um arco-íris e, ao chegar em cima dele, eu me sentava para ver o pôr-do-sol. Um dragão chegava e se enroscava em mim e me levava para voar com ele e depois se desvanecia em uma chuva colorida.
Um cavalo branco aparecia e eu o montava e ficava em pé em cima dele - que se transformava num pégasus... E eu dançava de novo no céu, tocando snujs.

 (sonhei isso acordada em uma meditação feita há uns dias e achei bonito...)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Contemplativa

Olhando o mar do Arpoador:

Uma espuma nasce da dança de ondas inúmeras e desencontradas - 
Todas simplesmente querendo chegar ao mesmo ponto: o lugar onde abraçam apaixonadamente os rochedos imóveis e impassíveis.
Elas espalham-se brancas e ruidosas e se beijam em redemoinhos de água-marinha.
Os rochedos continuam ali, recebendo esse carinho louco, que devagar,aos pouquinhos, os transforma profundamente. 
É assim essa história de amor 
Em que cada um não pode ser nem mais nem menos do que é, 
Nem tampouco dar mais ou menos do que lhe é possível.
As ondas não podem fugir da sua natureza apaixonada 
E as pedras não podem se furtar da sua existência compassiva.
Assim é.
Quem poderia perceber isso num simples e rápido olhar?
E por isso eu poderia ficar por horas admirando contemplativa 
Esse casamento ancestral tão bonito e verdadeiro...

Curiosity

Hey, mister! Don't be curious!
I'm just here, talking with my rainy thoughts
under the sun.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Gravidade zero



           s       o       r       r       i       s       o       s


     F              U                U                  M        
           L               T                 A



 e     m  e      f  a  z  e  m     c  ó  c  e  g  a  s
p  o  r      d  e  n  t  r  o

Em queda LIVRE

L
Á                          C
G      
R                                           A
I                                                
M                                   E
A                                                
S                                                    M    ...


SEM PÁRA-QUEDAS

                                            
                                                  

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Reflexões leoninas sobre a era de aquário

Por que será que está tão difícil dar e receber afeto hoje em dia?
Na minha opinião deixar fluir carinho deveria ser a coisa natural da vida. Mas eu mesma me vejo atada pelo medo da rejeição do outro. E acho que a rejeição do outro se deve justamente ao mesmo medo que o meu. Onde iremos parar se continuarmos assim?
Eu sempre achei que a era de aquário fosse ser a era do amor. Mas acho que sou leonina demais para suportar o amor metálico, cortante e virtual dessa era. Esse amor apenas dito em palavras enquanto há o afastamento dos corpos e das almas. Esse amor que pára numa barreira invisível feita de hesitação - essa barreira que impede a intimidade e as afeições verdadeiras de se manifestarem por inteiro.
Estão sempre em negrito as reticências e todo mundo teme as exclamações!!!
Na astrologia sempre pensamos um signo pelo seu oposto e a astrologia psicológica indica que é justamente no nosso oposto que nos fortalecemos.
Pois eu desejo mesmo que o amor universal aquariano se esquente na chama corajosa leonina para que as pessoas expressem seus sentimentos sem medo e os espalhem pelo mundo como o vento espalha sementes pela Terra - criando beleza e vida!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Dieta macro-lunar

                                                         Nebulosa da Mariposa

Pela manhã carboidratos e cálcio
No almoço, proteínas e folhas verdes fotossintéticas
À noite, eu quero mais é virar mariposa
pra me alimentar da luz prateada da lua cheia...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Eu, bailarina.


Eu, bailarina, achava que dançar era mais fácil.
Mas agora tropeço, hesito, fico com medo de sair do tempo da sua música.
Esqueci que todas as danças têm que fluir do coração.
Que os passos mais lindos não são pensados,
Eles simplesmente acontecem quando a gente fecha os olhos
e não se olha no espelho.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Leap into the Void

                                              Yves Klein

sábado, 1 de maio de 2010

Lust for life

"Por definição de dicionário, a Luxúria é a libertinagem, a lascívia, a exuberância, a sensualidade, o viço das plantas. Entendemos a Luxúria como uma exuberância dos sentidos, da sexualidade, uma embriaguez do corpo e da alma das sensações. Pecar por Luxúria seria ser possuído pelo desejo desmedido de obter a magnificência dos sentidos e da sensualidade."

Honestamente, não sei por que definiriam isso como pecado...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Leve saudosismo vespertino


De repente mil lembranças me assaltam. Às vezes são lembranças boas, outras nem tanto. Mas agora, nesse momento, me vi adolescente – tão sábia na minha ingenuidade e tão alegre no meu cotidiano de descobertas do mundo.
Sempre tenho a sensação de que devia ter aproveitado mais todos os momentos da minha vida... Mas talvez esse seja apenas um hábito ruim adquirido com o passar do tempo, pois me lembro que nessa época em que mergulhei agora há pouco, eu era muito feliz e sabia disso!
Não que eu não seja feliz agora – sim, eu sou... mas é que a felicidade daquela época era uma felicidade tão despreocupada que não resisto a me transportar de novo para aqueles dias ensolarados em que eu começava a descobrir os sentimentos contraditórios, as idéias novas, a humanidade pouco elaborada daquela idade.
Me lembro de momentos específicos com um amigo que hoje em dia está distante, não só fisicamente, com quem dividi momentos lindos como o pôr-do-sol no pátio do colégio, com folhas das árvores caídas no chão. Nós dois sentados um virado para outro conversando sobre a vida e admirando essa beleza do entardecer despretensiosamente.
Me lembro das primeiras idas às cachoeiras dos arredores de Brasília. Poço azul e a natureza! Saudade! Primeira ida a Pirenópolis e primeiro contato com outras dimensões numa meditação silenciosa ritmada pelo barulho das águas, da fumaça e da areia em contato com a minha mão. Saudades!
Que bom poder estar lá de novo! E, ao mesmo tempo, que maravilha estar aqui e agora e saber que essa pessoa está a quilômetros de distância, em um outro continente, talvez lembrando vagamente desses momentos que também fazem parte de quem ela é. Que bom saber que caminhamos, que tivemos outras experiências que nos levaram para longe, para outras lugares e descobertas. Que bom saber que provavelmente ainda nos emocionamos com o pôr-do-sol onde quer que estejamos e independentemente de onde seja o chão em que as folhas caem... e isso é o que nos une, apesar do tempo e do espaço.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

auto-sufi-ciência

Senti a brisa morna de verão tocar o meu rosto - a janela do carro aberta deixava-a me acariciar. O céu estava azul cintilante, o anoitecer caía e o trânsito estava mais calmo do que eu podia imaginar. Estava ali, só eu e meus pensamentos e, pela primeira vez em anos, me senti satisfeita, completa – não faltava nada ali... Pela primeira vez em anos eu não precisava de um outro para me sentir feliz e inspirada e essa sensação continuou e até foi crescendo...


Eu estava ali, dirigindo, andando rápido para fazer ventar nos meus cabelos e refrescar mais um pouco a minha alma descansada... Há tanto tempo eu não sentia essa brisa... Há tanto tempo descontentamentos e decepções me consumiram a ponto de eu não me sentir feliz num final de tarde bonito o suficiente para me acalmar o coração e entorpecê-lo de simplicidade...

Algo dentro de mim mudou, num estalo. Talvez já estivesse mudando sem que eu soubesse, mas naquela hora ficou tão nítido para mim: é chegado o tempo da felicidade serena em que eu mesma me arranco sorrisos e suspiros e brinco e fecho os olhos sonhadora, cantarolando a emoção de estar viva, cada vez mais viva!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Dúvida

Queria eu sair dançando feito louca pela rua. Queria eu poder te beijar a boca quando fosse vontade. Queria eu tocar de leve as suas mãos para sentir calafrios quentes. Queria eu poder falar com você simplesmente! Queria... Queria...
E se pudéssemos mesmo estar embaraçados em nós mesmos agora? E se você não tivesse que ir embora? E se pudéssemos não refletir sobre tudo? E se pudéssemos nos olhar por mais um minuto? E se não existisse a monogamia? Seríamos felizes?

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Impedimento

O vinho acabou, as velas queimaram, os morangos e cerejas foram devorados durante a minha dança ensaiada para você. Só restou a sua ausência.
Pelo menos essa não é uma situação irremediável...