domingo, 27 de abril de 2008

If Thou Must Love Me

Poema de Elizabeth Barrett Browning.

SONNET XIV

If thou must love me, let it be for nought
Except for love's sake only. Do not say
«I love her for her smile... her look... her way
Of speaking gently,... for a trick of thought

That falls in well with mine, and certes brought
A sense of pleasant ease on such a day» —
For these things in themselves,
Belovèd, mayBe changed, or change for thee, — and love, so
[ wrought,

May be unwrought so. Neither love me for
Thine own dear pity's wiping my cheeks dry, —
A creature might forget to weep, who bore

Thy comfort long, and lose thy love thereby!
But love me for love's sake, that evermore
Thou may'st love on, through love's eternity.

...


SONETO XIV

(Tradução: Manuel Bandeira)

Ama-me por amor do amor somente
Não digas: «Amo-a pelo seu olhar,
O seu sorriso, o modo de falar
Honesto e brando. Amo-a porque se sente

Minh'alma em comunhão constantemente
Com a sua.» Porque pode mudar
Isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
Do tempo, ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade
De tuas mãos enxuga, pois se em mim
Secar, por teu conforto, esta vontade

De chorar, teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor, e assim
Me hás de querer por toda a eternidade.


Leiam, de Virginia Woolf, " Flush. Memórias de um cão". Maneira linda que ela encontrou para contar a história de Elizabeth Barret Browining e Robert Browning.

Escritos antigos...

Lendo minha agenda de 1999 [ naquela época ainda não imaginávamos a existência de blogs (pelo menos não eu, que só mui recentemente venho aderindo às novas tecnologias) e talvez fôssemos mais introspectivos, menos exibicionistas, quem sabe, ou simplesmente não tínhamos a oportunidade de compartilhar sentimentos e idéias como temos hoje em dia - esta é uma possibilidade mais otimista e menos crítica], achei alguns poeminhas bonitinhos escritos por mim... há nove anos atrás, quando eu comecei a me apaixonar e viver essas paixões de maneira não platônica e todas as conseqüências disso, antes de eu ter mais o que fazer além de descobrir o mundo, quando os conflitos ainda despontavam, longe... enfim: quando eu era ainda "apenas" uma adolescente.
Lendo meus escritos daquela época, não só as poesias, mas o que eu pensava e sentia diariamente, me surpreendi... vi que muitas vezes o amadurecimento, os anos a mais, ofuscam nossas vistas, pois a inocência é um caminho simples para a compreensão intuitiva do mundo e do universo, compreensão esta que nós adultos tentamos desenvolver hoje em dia buscando mil teorias, centenas de oráculos, de gurus, professores, analistas, religiões, bússolas...
A verdade é que não pensar, simplesmente estar deixando as coisas acontecerem, estar maravilhado com tudo é uma maneira tão eficiente (e nessa época também nos ajuda muito não pensar muito em termos de eficiência) de estar conectado com o todo e, por isso, ser sábio sem saber e o melhor: sem querer ser...
O que eu vi ao ler os meus escritos foi leveza, e mesmo os escritos mais "existencialistas" ou tristes (apesar de a maioria deles ter uma tônica mais romântica: algumas coisas não mudam) eram ingênuos. Deixo alguns deles aqui:
...

"Lá vai o meu bem-amado,
que toca gaita e toca fado
tem lá seu jeito de safado
E é de seu amor um grande exagerado

Nas suas mãos meu cabelo enrolado
no seu abraço, o meu beijo embaraçado
E todo o público olha despeitado
Esse casal tão belo e tão apaixonado"
1

"Meus velhos amigos são os astros,
A água, o céu, o chão...
Meus conhecidos se desintegraram
As rochas, a carne e a poeira

Meus amores são as estrelas
Cada uma delas...
A música, os sonhos, seus filhos,
são minha decalaração
De amor e de ódio

Fumaças, cinzas e brasa
Mais doces que as cores,
Mais suaves que a luz

Notas musicais e gritos humanos:
eu moro neles e me escondo em seus tons
À chuva dedico minha existência
E vivo para escutar sua voz
" 2

"Presa - paredes frias e mofadas
Cimento velho, manchado
vidro translúcido, sujo,
ninho de vespas mortas:
Assim é meu lar
quando não moro em você
E o meu mundo é terrível
quando não entra pelas janelas
a brisa do hálito seu.
Estou trancada em mim mesma,
e não posso mais viver nessa casa triste."
3

O primeiro final (é bom poder rir disso agora... eu mal sabia que estava só começando) :

"Eu fecho os meus olhos.
Escrevo no escuro.
Tem estado desabotada
a minha cortina sem luz.
Meu corpo, tudo dói tanto...
Como se eu estivesse doente
Numa cama sem lençóis,
Coberta com o cheiro de ontem,
Vestida de pingos d'água gelados...


Não consigo dormir,
mesmo estando fechados os olhos -
presto atenção aos barulhos.
Escuto ecos de adeuses,
Buzinas teimosas:
Seus adeuses loucos para irem embora,
meu silêncio querendo que você fique.


Não sei mais o que diz essa caneta.
Não sei o que quero que você saiba.
Continuo fechando meus olhos
Para esquecer que ainda respiro,
Pra não lembrar que está dolorido,
Que está tudo errado,
Que ficou tudo triste..."
4


1- que bom era bastar alguém passar na rua assoprando uma gaita para, imediatamente, um poema brotar, despretencioso e bonitinho... me lembro como se fosse ontem...

2- Nessa época eu ainda não estudava astrologia, mas já me inspiravam as estrelas e os elementos... acho que já tava na alma... desde sempre...

3- Eu estava "estudando" na biblioteca da UnB... digamos que a feia vista do local me inspirou esse poema romântico...

4- Primeiro final de namoro (diga-se de passagem: depois de 1 mês, rsrsrs - sempre fui dramática...)

terça-feira, 15 de abril de 2008

Terrorismo Poético

Capítulo de "Caos, os Panfletos do Anarquismo Ontológico" (parte um de "Z. A. T."),
de Hakim Bey

ESTRANHAS DANÇAS NOS SAGUÕES de Bancos 24 Horas. Shows pirotécnicos não autorizados. Arte terrestre, trabalhos- telúricos como bizarros artefatos alienígenas espalhados em Parques Nacionais. Arrombe casas mas, ao invés de roubar, deixe objetos Poético-Terroristas. Rapte alguém e faça-o feliz. Escolha alguém aleatoriamente e convença-o de que ele é herdeiro de uma enorme, fantástica e inútil fortuna: digamos 8000 quilômetros quadrados da Antártida, ou um velho elefante de circo, ou um orfanato em Bombaí, ou uma coleção de manuscritos alquímicos. Mais tarde, ele irá dar-se conta de que acreditou por alguns poucos momentos em algo extraordinário, & talvez, como resultado, seja levado a buscar uma forma mais intensa de viver.

Pregue placas comemorativas de latão em locais (públicos ou privados) onde experimentaste uma revelação ou tiveste uma experiência sexual particularmente especial, etc.
Ande nu por aí.

Organize uma greve em sua escola ou local de trabalho, com a justificativa de que não estão sendo satisfeitas suas necessidades de indolência & beleza espiritual.

A Arte do grafitti emprestou alguma graça à metrôs horrendos & rígidos monumentos públicos. A arte Poético-Terrorista também pode ser criada para locais públicos: poemas rabiscados em banheiros de tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques e restaurantes, arte xerocada distribuída sob limpadores de pára-brisa de carros estacionados, Slogans em Letras Grandes grudados em muros de playgrounds, cartas anônimas enviadas a destinatários aleatórios ou escolhidos (fraude postal), transmissões piratas de rádio, cimento fresco...

A reação da audiência ou o choque estético produzidopelo Terrorismo Poético deve ser pelo menos tão forte quanto a emoção do terror: nojo poderoso, excitação sexual, admiração supersticiosa, inspiração intuitiva repentina, angústia dadaísta - não importa se o Terrorismo Poético é direcionado a uma ou a várias pessoas, não importa se é "assinado" ou anônimo; se ele não muda a vida de alguém (além da do artista), ele falhou.

O Terrorismo Poético é um ato em um Teatro de Crueldade que não tem palco, nem assentos, ingressos ou paredes. Para funcionar, o TP deve ser categoricamente divorciado de todas as estruturas convencionais de consumo de arte (galerias, publicações, mídia). Mesmo as táticas guerrilheiras Situacionistas de teatro de rua já estão muito bem conhecidas e esperadas, atualmente.

Uma requintada sedução levada adiante não apenas pela satisfação mútua, mas também como um ato consciente por uma vida deliberademente mais bela: este pode ser o Terrorismo Poético definitivo. O Terrorista Poético comporta-se como um aproveitador barato cuja meta não é dinheiro, mas MUDANÇA.

Não faça TP para outros artistas, faça-o para pessoas que não perceberão (pelo menos por alguns momentos) que o que acabaste de fazer é arte. Evite categorias artísticas reconhecidas, evite a política, não fique por perto para discutir, não seja sentimental; seja impiedoso, corra riscos, vandalize apenas o que precisa ser desfigurado, faça algo que as crianças lembrarão pelo resto da vida - mas só seja espontâneo quando a Musa do TP tenha te possuído.

Fantasia-te. Deixa um nome falso. Seja lendário. O melhor TP é contra a lei, mas não seja pego. Arte como crime; crime como arte

domingo, 13 de abril de 2008

...


Faz parte do meu show não me mostrar por inteiro...

sábado, 5 de abril de 2008


Em homenagem à minha querida amiga Carolina Ferreira Batista de Oliveira, mais conhecida por Carole Carole (ou simplesmente Carol):

Hoje é aniversário Dela, e eu gostaria de dizer tantas coisas...
Gostaria também de passar minha mão de unhas vermelhas em seus cabelos crescentes,
De umidecer meu olhar escutando suas palavras febris que curam nossa apatia.

Queria estar em um carro-céu reluzente, vertiginoso e sem rumo,
refazendo ciclos, girando alegre-mente com Ela –
Parque de diversões diversas: tiro no alvo do meu coração (e eu morreria mesmo de amor por ela!),
Roda gigante ao som de helter skelter ( look out! There she comes!)
Algodão doce, como as nuvens onde ela mora de vez em quando...

Hoje ela faz o melhor dos seus anos em sagitário: animalesca humana alada ...
Arco e flecha ao mesmo tempo: ela se lança e sempre nos a-tinge com suas cores.
Gostaria de estar perto dela nesse momento,no arpoador ou numa copa-cabana em Santa Tereza dos artistas...

Mas fico aqui no planalto central, de olhos CERRADOs,
Lembrando dela e me entortando de saudades,
Tendo certeza que a fonte cristalina do seu amor estará sempre cheia...
Para aguar paixões e fazer brotar novos ipês-estrelas no nosso céu azul

Hoje é aniversário Dela e ela é o nosso PRESENTE: Carpe Diem!
Gostaria de dar risadas de arco-íris com ela, de escutar seu canto em sol e lua
De brindar em homenagem a Baco na Esplanada,
De agradecer aos deuses e deusas pela amizade da ovelha-orvalho negra
(afinal, carneira jamais: ela é de jogar tudo pelos áries!)

Hoje é o dia D - ela
E tudo o que eu tenho a dizer é o que sempre foi dito nos aniversários:
Muitas felicidades nessa data querida!
E que esse abril te abra muitas portas e portais!

Te amo desmedidamente!

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Em casa

No meu colo te calas para o mundo
e silencias minha agonia.
Saboreio o doce da tua alma,
Profundamente, sem pensar.
Profanamente me elevo,
por baixo de ti.
E me inocento nos teus beijos...
Quanto mais meu corpo se cansa
eu inteira descanso nos teus abraços,
nos teus olhares incógnitos
que já não precisam dizer mais nada
se, naquele momento, olham para mim.
Inexiste o tempo e os lugares, então...
E eu me sinto mansamente feliz,
como se chegasse em casa
depois de muito tempo
ausente de mim mesma...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

E se a inspiração não vem... a gente usa a dos outros!

Publico aqui poeminha lindo, de inspiração plutoniana, da minha querida amiga Regina Knifer.

Samba-mantra Imaginário

quem me dera, imaginação querida,
despertar doce e charmosa e faceira
por entre remelas e bocejos,
se escondem tantos caracóis de desejos...

e a pestana libertaria em malícia
o véu transparente de um beijo
a arrepiar e escorrer pelas entranhas
e a desavergonhar as vergonhas

(na sutil cadência de um mantra,
orvalho de loucuras e begônias...)

tão mulher, tão menina,
tão puta, tão santa
tão bruxa, tão fada,
tão musa, tão farta

que dos meus seios qual mel jorraria
a partitura de um sambinha antigo
a embalar-me, junto ao dorso-abrigo
num prévio suspiro, o futuro desatino:

("se o amor rima com dor,
quero morrer AGORA em ti, em prosa e verso...")

e enfim adormeço, pois já raiou o dia
e cedo calor para a fria agonia,

que é nunca acalmar as agruras,
que é nunca tocar as nervuras,
que é nunca voar nas alturas
das nuvens dos abraços teus...

quem me dera, imaginação querida...