sábado, 30 de agosto de 2008

Presente



Respiro como há muito tempo não fazia.
Minha pele está em flor: prenúncio de primavera na minha alma,
ela, há tanto tempo desbotada pelo contentamento do mais ou menos...
Renasço sem fazer esforço, pois é assim que deve que ser.
Morrer dói, se reconstruir também, e é inevitável.
Mas depois do luto, arco-íris de desejos brotam, frios na barriga gotejantes viram rios de correnteza forte.
E a luz, depois de um tempo de sombras, irradia mais doce.
A vida pulsa, canções novas ecoam, as idéias ganham asas e pernas para nos levarem mais longe, desde que nos aproximemos de nós mesmos.
A roda gira implacável, como havia sido prometido:
O que está em baixo sobe, o que está em cima desce.
E assim é tecida a teia interminável das nossas vidas -
a única coisa que se pode decidir é se nos deixamos enredar, ou se nos libertamos para saborear infinitamente as surpresas pelo caminho...


Desenho de Thaís Werneck - encantada com as cerejeiras em flor e com a cultura japonesa.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Aniversário


Final de inverno em Brasília. O ar seco fere os nossos pulmões. Um Cometa inusitado aparece no céu acima da Catedral. Ipês amarelos explodem em flores enquanto eu os vejo ficando para trás, a 80 km por hora. Estou no meu caminho, cada hora para um lugar diferente. Lágrimas quase saem dos meus olhos emocionados pela beleza das cores, das formas e do silêncio contemplativo que se instala . Um sorriso irrompe. É manhã, o sol está brilhante em Leão e dentro de mim, e eu agradeço a ele pela minha vida, pela brisa que entra enquanto eu abro a janela – da alma - para ver direito a criação divina que é o mundo e a minha existência.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Em homenagem a Alakina e seus filhotes

"Os pais devem ser arcos dos quais os filhos são lançados como flechas vivas" Gibran Khalil

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Por amor a mim mesma

Eu admito que tenho muitas fraquezas, que não dou o braço a torcer, que muitas vezes falo mais do que escuto, que sou competitiva, que penso muito em mim, que tenho ciúme e sou possessiva, que sou desconfiada e maliciosa, que tenho inveja, que tenho muito medo de coisas que não conheço e principalmente das mais conhecidas. Eu admito que de vez em quando tenho desprezo e desdém por mim mesma e pelos outros, admito que tem horas que engulo todos os palavrões que gostaria de gritar aos quatro ventos e fico com dor de garganta, admito que meu joelho às vezes dói por causa do meu orgulho ferido e que eu odeio confessar isso. Eu sei que como o Sérgio Sampaio, já dormi de touca, perdi a boca e fugi da briga. Eu admito que vivo pensando em motivos convincentes para não ir trabalhar, para faltar a aula e comer mais um pedaço de chocolate. Eu admito que já senti raiva da minha mãe, que já culpei meu pai, que já perdi a paciência com a minha cachorra e esqueci de aguar as plantas. Eu admito que sou inflexível, que odeio críticas, que sou "do contra" e mimada. Eu admito que gosto de chamar a atenção, que não cumpro todas as minhas promessas, que algumas vezes os segredos dos outros me escapam pela boca e que eu minto... Eu admito que já traí, que já namorei o menino que a minha melhor amiga gostava, que fingi que gozei. Eu admito que não li Guimarães Rosa, que só vi um filme de Glauber Rocha e que não gostava de música popular brasileira. Eu admito que algumas vezes sou egoísta, que julgo os outros, que sou precipitada e impaciente. Eu admito que o dinheiro tem lá seus lados bons, apesar de eu desprezar o capitalismo. Eu admito que é muito arriscado me acomodar. Eu admito que muitas vezes não sei para aonde eu vou, que fico perdida e que tenho vergonha de chorar na frente dos outros. Eu admito que sinto raiva, que guardo mágoa, que sou apegada a muitas coisas e que muitas vezes não abro mão da minha opinião, sou teimosa e gosto de dar a última palavra.
Eu admito as minhas sombras, eu admito que sou humana...