quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Simplicidade

Felicidade é coisa simples,
como o deslizar do carvão sobre papel.
Desenhos surgem inesperados,
vindos de lugares escondidos
e mesmo que não nos digam nada,
são bonitos, e isso basta!
Não importa se são grandes ou pequenos.
O fato é que eles são parte de nós,
Como os momentos felizes -
que, sendo duradouros ou não,
Existem o tempo todo
Se deixarmos também o nosso ser deslizar pela existência
Como se esta fosse um papel fino e delicado
Ao mesmo tempo muito resistente,
daqueles que não se desfazem facilmente.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Oração a todas minhas mães

Esse é o momento de seguir em frente
De adentrar a floresta em busca do fogo,
Para criar alma.
De encontrar todas sortes de criaturas
Que me habitam.
De dar adeus e boas vindas,
De cumprir tarefas e ser recompensada
por ter coragem.

Esse é o tempo de encarar todas as sombras,
de deixar passar todos os cavaleiros,
O sol, a noite e madrugada,
que se apresentam imutáveis.
Tempo de ser roda afortunada
Por estar conhecendo mais do mundo
E de mim mesma.

Em minha companhia, levo um arco-íris lúdico:
Minha herança abençoada
Com beijos e abraços ternos,
Lágrimas de amor infinito,
e desejos de caminho bem traçado,
Com afeto do amor inabalável
Da que tudo sabe e compartilha.

Boneca verde me deixou a doce mãe boa demais -
para apaziguar a alma
e aprender a escutar segredos do coração.
Boneca vermelha - para compreender que também sou instinto.
Boneca laranja - para apaziguar o corpo
e cuidar do desejo, fonte da vida.
Boneca amarela - para proteção,
para ajudar a escolher entre isto e aquilo.
Boneca azul, para aprender a dizer sim e não na hora certa.
Boneca índigo, pra ler melhor as entrelinhas.
Boneca violeta para compreender melhor o universo.

Minha alma agridoce agradece multicolor.
Minha voz se espalha por todos os meus ouvidos,
cantando a gratidão.
Em espírito me alimento do amor profundo
da outra mãe, boa o suficiente,
que agora me guarda de longe,
pois confia em mim e tem certeza
que eu saberei sempre o que fazer por mim mesma
se estiver em silêncio e disposta a ouvir minha própria voz.

Escrito inspirado no Conto da Vasalisa, no livro de Clarissa Pinkola Estés - Mulheres que correm com os lobos - e em muitas sincronicidades.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Eu só sei que, apesar de tudo,
a vida é bonita é bonita e é bonita!!!!!!!!

In and Out

Nenhuma mensagem chegou...
As moscas calaram seu zumbido
O telefone não tocou,
Eu continuei em silêncio
Dentro e fora de mim.

Primavera inquietante
De flores mortas e ferrões
De odores fortes, inebriantes
De lua nova acelerada, crescendo
Dentro e fora de mim

Peito apertado e dor na garganta
Engulo o nó para digerir
Esse lento sabor amargo
No âmago, eu choro
Dentro e fora de mim

Não chove, mal venta
O sol não diz bom dia
Se põe sem dizer adeus
O clima está estranho
Dentro e fora de mim

Se entro, quero sair
Se saio, vejo que o lugar é dentro
Dentro e fora de mim:
Desafiando as leis da física
E quebrando as minhas próprias...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Homenagem a uma estrela-irmã que retorna ao lar

Há meses atrás minha querida amiga Regina se foi para longe meditar. Meditar sobre o tempo, sobre a amizade, sobre a existência, sobre os amores, o passado, sobre os encantos e desencantos dos desertos que vira-e-mexe surgiam dentro dela.
Não deu notícias, não escreveu, nem telefonou - apenas telepatizou e refeltiu meses sem pensar.
Nadou, caminhou na praia, deixou sua pele queimar ao sol pra se sentir menos frágil, talvez... aprendeu com as marisqueiras e com os amigos do mar coisas que desde sempre já sabia e lembrou das coisas novas, nas quais não havia chegado a pensar.
Eu senti saudades e deixei escapar suspiros e sorrisos ao me lembrar dela atrapalhadamente ariana com a lua em gêmeos (como a minha!), acolhedora com o ascendente em câncer... ao recordar das nossas conversas metafóricas de ar e fogo misturados, que nos chegavam aos ouvidos coloridas, sempre desafiando a monotonia das palavras e idéias ordinárias...
Publico aqui um poeminha que escrevi no dia em que ela foi embora e em seguida publico, com muita honra, um poema simbólico escrito por ela sobre o seu Rê-torno não para Brasília, mas para si mesma.
Que flores vermelhas brotem infinitamente no oásis do seu olhar verde-claro, querida amiga!

Poesia para uma amiga em retiro

"Lá se vai a libélula multicolorida,
fazer florescer novos jardins...
Menina feita de nuvens chorosas, de arco-íris e risadas,
A ti, desejo um tempo de amores e de brisa do mar,
um tempo que pára os relógios cotidianos e
desmancha os castelos de areia,
um tempo que semeia teus sonhos
e faz cantar os passarinhos,
na mata atlântica, nos coqueiros antigos e nas cachoeiras,
Quando, no fundo do mar bahiano,
te sorrirão cavalos marinhos e redemoinhos...
Dançarão em tua homenagem
arraias profanas, tubarões medrosos e golfinhos.
E eu, cá no cerrado,
derramarei uma lágrima mista de saudade e fantasia..."
(Thaís Werneck)

Agora a esperada poesia da amiga que voltou:

Rê-nascimento

"Um zumbido arranhado,
dissonantes frequências em rê-composição,
[buscando o mergulho definitivo para dentro da refrescante melodia das asas.

Um deserto de sal e lágrimas,
chuva ácida que dissolve a contemplação do infinito
[na sábia teimosia do rê-nascer da frágil flor.

Um grito em mil pedaços rasgado,
Abocanhado pelas feras da noite que arde
[mas que logo se rê-trai e se apaga.

Um vento forte,
Que varre a aspereza das palhas
[ensandecido espiral rumo ao ventre que palpita de estrelas e amor.

Um abalo sísmico,
Rebuliços no oceano da alma
[lava e água nas sendas do impenetrável coração.

Um suspiro profundo
Afago cósmico, um "sim" ao mundo
[e ao vai-e-vem paciente e perseverante das estações.

Uma voz tão suave e terna
Ninando os prantos, medos e ilusões
[morno aconchego num ninho banhado em luz.

Quer com o negro véu do luto,
quer vestido de cintilâncias primaveris,
é o mesmo chamado, em tantas formas transmutado
[soluços e súplicas pelo rê-torno ao lar...

Mais que guerras e fronteiras,
quero teias e pontes!

Rê-nascida das próprias cinzas,
a fênix solar se eleva inteira aos céus,
explodindo numa supernova de aceitação e amor.

E do útero do universo verte uma cascata de sorrisos,
[prece cósmica pelo pulsar de tão majestosa galáxia."
(Regina Nascimento)

Linda!

É por isso que concordo com meu amigo João Alfredo (que já me prometeu um texto para ser publicado aqui): Viajar é preciso!

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Vaidosa

Pus-me bonita para você me ver passar,
Escolhi a cor certa, o tom mais reluzente
Pro brilho dos meus olhos.
Dexei o cabelo cair pro lado, desacostumado.
A cor da minha boca ficou contente,
No meu rosto, vermelhas maçãs-de-amor sem blush.
Unhas de gata malhada - sem base!
Sombreadas piscadelas me escaparam
E meus cílios sinceros se alongaram tentando te avistar...
Brotou de mim um convite,
Mas passaram horas, passou o dia,
Passou o momento de você me ver passar
E eu fiquei passada!
Com a alma amarrotada,
Estilosamente cheia de saudades de te encontrar...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Chuva

A primeira gota de chuva caiu,
levantou um pouco da poeira,
fez minhas narinas sentirem o odor
dos incansáveis ciclos da natureza -
Independentes e necessários.
Cada pétala sentiu o afago dos pingos.
Cada folha se refrescou serenamente.
A terra se nutriu da água
que tortuosamente penetrou o chão
desejoso de lágrimas do céu.
Eu fechei os olhos e respirei devagar
esse cumprimento úmido e celestial.
Adormeci.
Acordei com o canto orvalhado de um sabiá
que mora perto da minha janela.