sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Abro com um canivete minha armadura de ferro -
até rasgar a carne.
Deixo sangrar o medo - de ser eu e desse eu não ser bom o suficiente,
de não ser amada, de não ser aceita, de ser julgada...
Sangra, sangra, sangra o peito,
Até deixar exposto um coração batendo forte:
vida que dói e também é deleite.


Sem armaduras, o amor amadurece...





domingo, 17 de agosto de 2014

Tempo não é dinheiro e dinheiro, de fato, não compra felicidade. (ou Felicidade Interna Bruta x Produto Interno Bruto) (ou, ainda: Que nosso tempo seja livre do consumismo)







Enquanto reparava nas roupas antigas e tão bem conservadas que usava hoje, pensei em quanto tempo faz que não compro roupas novas. Desde que minha filha nasceu, minhas prioridades na vida mudaram bastante. 

Resolvi tirar uma licença sem vencimento e passei alguns meses vivendo das economias que tinha feito para um ano sabático, que na verdade acabou dando lugar à viagem mais profunda que já fiz nessa vida, quando descobri que estava grávida. Quando o dinheiro acabou, tive que voltar a trabalhar, mas por achar que o melhor para nós duas seria passarmos o mínimo de tempo longe uma da outra, pedi redução da carga horária, o que significou também redução no meu salário. 

Desde então, tenho vivido com menos dinheiro e vejo um duplo benefício nisso: tenho mais tempo livre e percebi que não preciso consumir tanto quanto consumia antes. 

Tudo bem repetir roupas, frequentar menos restaurantes, não poder viajar todo mês, falar menos ao telefone, não comprar um brinquedo a cada semana pra minha filha (afinal, mesmo que tivesse mais dinheiro, não acho que isso seja muito bom para as crianças!), não trocar o meu carro com apenas dois anos de uso (parece que é quase um protocolo trocar os carros seminovos a cada dois anos!), entre outras coisas que hoje em dias perderam importância para mim (na verdade nunca tiveram tanta importância, mas eu estava lá, na inércia, seguindo todos os protocolos).

Tenho tempo e tempo não é dinheiro! Tenho tantas alegrias no tempo livre do qual disponho que nem sei quando voltarei a trabalhar mais para ganhar mais dinheiro – dinheiro, de fato, não traz felicidade! É só reparar nas estatísticas de pessoas com depressão... Tem muitos ricos ali!
Bom mesmo seria ter um aumento e continuar tendo mais tempo, mas tudo bem se isso não acontecer... Eu repito: Tempo não é dinheiro!

E me pergunto: Que mundo é esse em que as pessoas passam mais de dez horas longe de seus filhos, dos seus animais de estimação, das suas plantas, das casas lindas que construíram com o suor dessas tantas horas que passam longe de casa? Que necessidades são essas que fazem a gente querer o tempo todo ter mais dinheiro, passar em outro concurso que pague mais e depois em outro que pague melhor ainda e depois e depois... Do que é que a gente realmente precisa e quanto isso realmente custa?
Falando sobre isso com meu companheiro, ele me lembrou do conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB), em contraposição ao Produto Interno Bruto (PIB).

FELICIDADE INTERNA BRUTA (FIB) é um indicador sistêmico desenvolvido no Butão, um pequeno país do Himalaia e se baseia na premissa de que o objetivo principal de uma sociedade não deveria ser somente o crescimento econômico, mas a integração do desenvolvimento material com o psicológico, o cultural e o espiritual – sempre em harmonia com a Terra.  Lindo de viver!

Até quando ficaremos presos ao velho paradigma do PIB , do “tempo é dinheiro”, das 40 horas semanais (sendo otimistas, pois pra maioria dos trabalhadores, são mais de 50 horas por semana das quais uma boa parte passam em pé em ônibus lotados, presos em congestionamentos, indo ser explorados por donos das lojas que têm que funcionar 24 horas por dia, todos os dias, para que nós possamos consumir um monte de coisa das quais não precisamos)?

Agradeço à minha filha, que além de tantas outras experiências incríveis, me permite vivenciar na prática o “menos é mais” e ver que é perfeitamente possível ser feliz sem estar na última moda, sem ter o iphone 5, o ipad x, o macbook pro, o itudo (rsrsrs), com um carro popular usado (quem dera fosse de bicicleta ou usando um bom sistema de transporte público), sem frequentar restaurantes finos (e tendo tempo de ir à feira comprar verduras orgânicas!), sem cortar o cabelo com o cabeleireiro mais top (e continuar se sentindo linda por estar exalando contentamento pelos poros) e outras coisas sem importância do tipo...

Definitivamente, eu quero viver no mundo do FIB e é esse o mundo que eu desejo para minha filha. Enfim, que nosso tempo seja livre do consumismo!






quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Sobre ter filhos, egoísmo, amor-próprio e revolução!

Nunca achei que uma mulher precisasse se tornar mãe para ser completa e nem que um casal tivesse necessariamente que ter filhos... Continuo tendo essa opinião. Quando engravidei, muitas pessoas ficaram surpresas, pois não era muito o “meu perfil”. Eu nunca havia feito planos nesse sentido e achava que “casar e ter filhos” era mesmo pura convenção social.

Uma vez, em uma das viagens que eu adorava fazer sozinha, estava almoçando ao lado de uma mesa onde havia um casal com um filho “birrento”. Os pais mal se falavam e a criança também estava sendo ignorada – talvez até por causa disso quisesse chamar tanto a atenção deles. Nesse momento, fiquei refletindo sobre o que levava as pessoas a terem filhos – me vinha muito essa história do condicionamento social à mente, mas romanticamente eu pensei: “em alguns casos, ter um filho é o caminho inevitável do amor de duas pessoas que se funde em um outro ser!” Tipo a “síntese” da dialética Hegeliana – hehehe! Lembro que nessa hora, romântica que sou, fiquei maravilhada com essa possibilidade! Mas, logo alguma outra coisa chamou minha atenção e segui viagem, admirando outras paisagens e tendo outros devaneios.

Anos depois, conheci uma pessoa e despretensiosamente, me apaixonei, ou melhor, nos apaixonamos. Já havia me apaixonado antes, mas não a paixão do tipo: “teria um filho com esse cara!” E foi só pensar [(mos) – ele pensou junto comigo] nessa possibilidade, que menos de um mês depois, estava lá comprando um teste de farmácia e vendo as duas linhazinhas vermelhas indicando: gravidez!

Desde então, tudo mudou! Tudo mudou radicalmente! Passei nove meses imersa na gravidez – comia e dormia pensando no melhor tipo de parto, na obstetra ideal, nas atividades físicas ideias, na decoração do quarto ideal... E mais para o fim da gravidez, pra ser bem exata, algumas horas antes das primeiras contrações, pensei  em como tudo seria completamente diferente depois que chegasse ao mundo essa criança, já tão amada!

Entendi, depois que minha filha nasceu, porque tantos pais e mães enchiam meu facebook com fotos de seus filhos e com cada fala engraçadinha deles. Entendi porque as mulheres mais próximas gastavam a maior parte da vida delas com preocupações relacionadas a seus filhos. Entendi o que minha mãe queria dizer quando dizia o quanto me amava. E hoje em dia, tento entender e praticar aquilo que chamam de amor incondicional, que acho que é algo mais fácil de sentir pelos filhos – afinal, existe neles uma partezinha de nós.

Sobre essa última frase, hoje estava recordando quando às vezes falava pra minha mãe em nossas brigas, no auge da minha adolescência, que os pais na verdade não passam de grandes egoístas! Estava refletindo sobre isso e em parte, acho mesmo isso: amamos tanto esse ser porque, em última instância (só em última?) ele é um pedaço de nós mesmos! E quando pensei isso e fiz uma retrospectiva de tudo o que aconteceu nos últimos dois anos, amei mais ainda a minha filha! E aí, o que eu achava egoísta antes, passou a ser visto também como amor-próprio: Quando a amo tanto, amo muito a mim mesma também! Isso não é lindo?

Pensando ainda porque os pais falam tanto de seus filhos, cheguei a algumas conclusões: pode ser porque gostam de se vangloriar de seus feitos e aí falam o tempo todo de como seus filhos são demais e incomparáveis, mas pode ser também porque estão imersos em uma tarefa incrível e revolucionária que é a de criar pessoas melhores para habitarem esse mundo!

Que oportunidade única! Ajudar esses seres a fazerem diferente! E entra aí sim, algo de egoísta, no sentido de termos que olhar para nós mesmos, para o mais profundo de nós o tempo todo! Não queremos e nem devemos repetir padrões! O que meus pais e o mundo fizeram comigo que quero evitar fazer com meus filhos? Como criar pessoas mais autônomas, independentes, cuidadosas, generosas e amorosas?

Tantas teorias disponíveis – mas nenhuma delas pode funcionar direito se não olharmos para dentro de nós e para fora também, na medida em que percebemos nossos reflexos e ações automáticas, nossos condicionamentos. Sim! Esse amor incondicional tem que ser egoísta nesse sentido e tem que ser também amor por nós mesmos e até por nossos ancestrais (e no caso desses últimos, tem que ser amor e perdão!).

Haja amor!

Talvez lendo isso, as pessoas que não têm filhos – seja porque ainda não é a hora e não se sentem preprados, ou porque não têm a mínima vontade – compreendam porque esse pessoal que tem filhos não para de falar sobre isso!

É egocentrismo misturado com muito amor! É também a felicidade enorme de poder fazer diferente, de ajudar alguém a ser melhor e mais pleno que a gente, é a possibilidade de perdoar nosso passado com atitudes práticas! E é também tanta coisa que não cabe em palavras... Ai, ai...

É uma oportunidade e tanto!

domingo, 18 de março de 2012

Quietude

Estou quieta,
numa reclusão voluntária:
Só quero amar!
Dentro da concha,
debaixo da colcha.
Só quero amar!
Não esqueci que há o mundo,
nem que ele é grande.
Mas acontece que agora,
sua vastidão está  pequena
e lá fora está tão longe...
Ao meu alcance só está amar
E mais nada!

Tudo e nada

Descubro seus segredos com a boca.
Cada um deles, escondidos nas linhas do seu pescoço,
nas dobras minúsculas da sua pele,
à minha língua são revelados.

Te decifro com minhas células:
Grudo meu corpo ao seu, como imã,
até me perder nele.
Te escuto nas mínimas vibrações.
Te entendo nas sinfonias de vento quente do seu hálito.
Tremo inteira por dentro. Te sei todo!

Olho nos seus olhos - rio profundo, verde escuro.
Esqueço tudo que a sua pele me contara,
Meu coração acelera.  Não te sei nada!
Adentro sua noite quase infinita.
Suas pupilas, redemoinhos, me rodopiam no escuro.
Seu fluxo, mais forte que meu medo, me leva,
Sigo leve na sua penumbra cheia de luz.

Fecho os olhos, te sei todo de novo.
Te reconheço com a ponta dos dedos:
Gravo milhares de impressões suas nas minhas digitais.
Mas sentindo seu perfume profundo,
Num lapso, me perco e
Já não te sei nada, mais uma vez.

Então paro e só te sinto.
(Eu, que sou essa que passeia,
 de corpo e alma, dentro e fora de você).

E não há nada a ser descoberto:
Te sei todo (não te sei nada).
E tudo há para ser conhecido:
Não te sei nada (te sei todo).

Até que tudo ou nada deixem de existir...


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Allegro (Si[m] maior)

Ele me deu suas mãos,
e nelas corriam rios feitos de suor ansioso e tímido.
Eu quis que eles desaguassem em mim como em um mar preguiçoso...

Ele leu muitas linhas de alguns livros guardados
(e até das minhas próprias mãos).
Deles escorriam poesias perfumadas por seu hálito lírico.
Eu escutei atenta, enquanto uma parte de mim mal prestava atenção:
Só queria admirar e estar feliz.
Feliz por quase nada...
Talvez porque da boca dele saíssem versos e beijos.

Ele olhou para mim e enxergou luz nas minhas sombras
Eu refleti mais luz por causa disso,
e o sorriso dele (que havia estado temporariamente desbotado),
de repente se iluminou.

(Muitas cores suaves dançaram em volta deles,
enquanto risadas feitas de fumaça leve os entorpecia.
Uma alegria inevitável e espontânea os convidou a dizerem sim,
depois de um tempo de muitos nãos.)