sábado, 26 de setembro de 2009

Carta triste de despedida a uma das pessoas mais lindas que eu conheci nessa vida

Muito triste quando a vida acaba em plena primavera, desrespeitando o ciclo natural das coisas...
Um vazio se instala...
Uma linda flor se transforma em estrela antes do tempo e, mesmo que haja a certeza de que lá, em companhia de anjos e serafins a vida será melhor, longe da maldade humana, longe da dor que nos acompanhará aqui, por muito tempo nossos corações chorarão em silêncio e nossas consciências clamarão por justiça, nesse mundo cada vez mais louco e assustardor em que vivemos.
Querida amiga Polyanna, você jamais será esquecida!
Com amor,
Thaís


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

No hay porque



A beleza da vida tem me tirado muitas lágrimas.

Em alguns relances é possível sentir-me parte de tudo e sentir as coisas como elas realmente são – e tudo é muito arrebatador... e tudo é silencioso...

Tudo vem de dentro e de fora ao mesmo tempo e a voz do silêncio é o entendimento entre essas duas forças contraditórias.

E os Beatles cantando “because” é umas das coisas mais lindas que eu já ouvi: “Because the Sky is blue, it makes me cry...”

Acho que é disso que eu falo: porque existe beleza no mundo, eu choro…

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ela enfim chegou...

       
Poesia linda da minha poeta favorita:



A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes,
— e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododentros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvi­dos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

(Cecília Meireles)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ano de Escorpião


Há muito tempo não escrevo... Por falta de tempo, de disciplina principalmente...
Mas não me tem faltado a inspiração que vem de repente, sempre quando não há papel e caneta à mão... Vem-me assim nas horas mais cotidianas – que para mim são as mais repletas de filosofias e contemplações...
Ontem catei amoras na rua e foi uma sensação tão boa: tão romântico colher aquelas frutinhas pretas por fora e intensamente vermelhas por dentro. Tão bom brincar com os galhos finos da amoreira, treinar o olhar para detectar em meio às amoras ainda brancas aquelas que já conseguiram amadurecer... Tão bom constatar que cada ser na face dessa Terra tem seu tempo para tornar-se aquilo que sempre foi, aquilo que sempre esteve gravado em suas células (e em suas almas), para cumprir o seu destino, seja ele qual for.
Tão bom ir aperfeiçoando a qualidade de aprender com tudo o que vive, com o diferente de nós, com as coisas mais simples e invisíveis para aqueles que têm olhos desatentos, que não enxergam senão a si mesmos e, sem querer, desprezam todas as vidas que fazem parte da Vida.
Sigo assim... O tempo todo contando histórias para mim mesma, filosofando com os meus botões e com os botões de rosas... Deixando a existência fluir nas minhas veias, tentando aceitar tudo o que vem e vai e tudo o que existirá para sempre, por mais que o para sempre seja tão, mas tão angustiante!
Tenho chorado muito também. Quando vejo, as emoções transbordam em forma de lágrimas, as confusões se instalam e de repente somem e me visitam e me dizem adeus... Nada é estável ultimamente. E isso seria possível?
Não sei... Mas para ser bem sincera, tenho tentado ao máximo não me deixar consumir pelos questionamentos que eu ainda não posso responder... ao mesmo tempo em que adoro pensar nas coisas para as quais eu tenho certeza que jamais encontrarei respostas...
Tenho sido bem analítica, tentado analisar meus julgamentos e opiniões, mas também tenho me permitido fazer julgamentos errôneos, humanos... Tenho me permitido permitir-me a mim mesma... E tem sido bom de uma forma estranha... Estranha no sentido de diferente...
Muitas coisas têm sido difíceis... Em especial as coisas pequenas sobre mim mesma... Pequenas e importantes coisas – tão importantes como as amoras negras, difíceis de serem vistas, que brotam do dia para a noite e em pouco tempo tingem o chão quando caem... Afinal, cair nunca é neutro, nunca é sem cor, e normalmente é mesmo vermelho...
Ai, ai... Que transbordamento mais calmo aqui dentro! Como tenho sido espontaneamente barroca nesses últimos tempos... Ou quem sabe durante toda essa minha vida...
Tenho amado o silêncio, tenho tentado o silêncio e aceito que ele também tem o seu tempo de vir a ser, mesmo num mundo onde todos devem ter opiniões, em que todos devem dizer alguma coisa com propriedade... E nesse mesmo mundo, tenho tentado ao máximo dizer “eu não sei” , justamente para descobrir as respostas que não são formuladas para agradar os outros ou fazer tipo e sim as respostas que de fato me satisfaçam ou me acalmem.
Tenho brincado com os cristais e deixado que eles cochichem segredos antigos nos ouvidos da minha alma, tenho amado cada vez mais as plantas e ficado feliz com elas – elas, assim como as pedras, há muito tempo aprenderam a se comunicar sem palavras, silenciosa e sabiamente. Quantas lições! E quantas mais eu ainda tenho que aprender! Mas tenho treinado a calma... tenho sim... a calma é como as essências extraídas lentamente das flores: preciosa e perfumada...
E é assim que vou indo... Sabendo que ser é a conjugação de diversos estares...
Apesar de todos os desafios, e talvez justamente por causa deles, Estou bem.

Por causa da primavera que vem chegando...


Nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
De qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
No teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
Ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

Teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
Embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
Me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

Ou se quiseres me ver fechado, eu e
Minha vida nos fecharemos belamente, de repente
Assim como o coração desta flor imagina
A neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

Nada que eu possa perceber neste universo iguala
O poder de tua intensa fragilidade: cuja textura
Compele-me com a cor de seus continentes,
Restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
E abre; só uma parte de mim compreende que a
Voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas

E. E. Cummings