quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ano de Escorpião


Há muito tempo não escrevo... Por falta de tempo, de disciplina principalmente...
Mas não me tem faltado a inspiração que vem de repente, sempre quando não há papel e caneta à mão... Vem-me assim nas horas mais cotidianas – que para mim são as mais repletas de filosofias e contemplações...
Ontem catei amoras na rua e foi uma sensação tão boa: tão romântico colher aquelas frutinhas pretas por fora e intensamente vermelhas por dentro. Tão bom brincar com os galhos finos da amoreira, treinar o olhar para detectar em meio às amoras ainda brancas aquelas que já conseguiram amadurecer... Tão bom constatar que cada ser na face dessa Terra tem seu tempo para tornar-se aquilo que sempre foi, aquilo que sempre esteve gravado em suas células (e em suas almas), para cumprir o seu destino, seja ele qual for.
Tão bom ir aperfeiçoando a qualidade de aprender com tudo o que vive, com o diferente de nós, com as coisas mais simples e invisíveis para aqueles que têm olhos desatentos, que não enxergam senão a si mesmos e, sem querer, desprezam todas as vidas que fazem parte da Vida.
Sigo assim... O tempo todo contando histórias para mim mesma, filosofando com os meus botões e com os botões de rosas... Deixando a existência fluir nas minhas veias, tentando aceitar tudo o que vem e vai e tudo o que existirá para sempre, por mais que o para sempre seja tão, mas tão angustiante!
Tenho chorado muito também. Quando vejo, as emoções transbordam em forma de lágrimas, as confusões se instalam e de repente somem e me visitam e me dizem adeus... Nada é estável ultimamente. E isso seria possível?
Não sei... Mas para ser bem sincera, tenho tentado ao máximo não me deixar consumir pelos questionamentos que eu ainda não posso responder... ao mesmo tempo em que adoro pensar nas coisas para as quais eu tenho certeza que jamais encontrarei respostas...
Tenho sido bem analítica, tentado analisar meus julgamentos e opiniões, mas também tenho me permitido fazer julgamentos errôneos, humanos... Tenho me permitido permitir-me a mim mesma... E tem sido bom de uma forma estranha... Estranha no sentido de diferente...
Muitas coisas têm sido difíceis... Em especial as coisas pequenas sobre mim mesma... Pequenas e importantes coisas – tão importantes como as amoras negras, difíceis de serem vistas, que brotam do dia para a noite e em pouco tempo tingem o chão quando caem... Afinal, cair nunca é neutro, nunca é sem cor, e normalmente é mesmo vermelho...
Ai, ai... Que transbordamento mais calmo aqui dentro! Como tenho sido espontaneamente barroca nesses últimos tempos... Ou quem sabe durante toda essa minha vida...
Tenho amado o silêncio, tenho tentado o silêncio e aceito que ele também tem o seu tempo de vir a ser, mesmo num mundo onde todos devem ter opiniões, em que todos devem dizer alguma coisa com propriedade... E nesse mesmo mundo, tenho tentado ao máximo dizer “eu não sei” , justamente para descobrir as respostas que não são formuladas para agradar os outros ou fazer tipo e sim as respostas que de fato me satisfaçam ou me acalmem.
Tenho brincado com os cristais e deixado que eles cochichem segredos antigos nos ouvidos da minha alma, tenho amado cada vez mais as plantas e ficado feliz com elas – elas, assim como as pedras, há muito tempo aprenderam a se comunicar sem palavras, silenciosa e sabiamente. Quantas lições! E quantas mais eu ainda tenho que aprender! Mas tenho treinado a calma... tenho sim... a calma é como as essências extraídas lentamente das flores: preciosa e perfumada...
E é assim que vou indo... Sabendo que ser é a conjugação de diversos estares...
Apesar de todos os desafios, e talvez justamente por causa deles, Estou bem.

Nenhum comentário: