quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Sobre ter filhos, egoísmo, amor-próprio e revolução!

Nunca achei que uma mulher precisasse se tornar mãe para ser completa e nem que um casal tivesse necessariamente que ter filhos... Continuo tendo essa opinião. Quando engravidei, muitas pessoas ficaram surpresas, pois não era muito o “meu perfil”. Eu nunca havia feito planos nesse sentido e achava que “casar e ter filhos” era mesmo pura convenção social.

Uma vez, em uma das viagens que eu adorava fazer sozinha, estava almoçando ao lado de uma mesa onde havia um casal com um filho “birrento”. Os pais mal se falavam e a criança também estava sendo ignorada – talvez até por causa disso quisesse chamar tanto a atenção deles. Nesse momento, fiquei refletindo sobre o que levava as pessoas a terem filhos – me vinha muito essa história do condicionamento social à mente, mas romanticamente eu pensei: “em alguns casos, ter um filho é o caminho inevitável do amor de duas pessoas que se funde em um outro ser!” Tipo a “síntese” da dialética Hegeliana – hehehe! Lembro que nessa hora, romântica que sou, fiquei maravilhada com essa possibilidade! Mas, logo alguma outra coisa chamou minha atenção e segui viagem, admirando outras paisagens e tendo outros devaneios.

Anos depois, conheci uma pessoa e despretensiosamente, me apaixonei, ou melhor, nos apaixonamos. Já havia me apaixonado antes, mas não a paixão do tipo: “teria um filho com esse cara!” E foi só pensar [(mos) – ele pensou junto comigo] nessa possibilidade, que menos de um mês depois, estava lá comprando um teste de farmácia e vendo as duas linhazinhas vermelhas indicando: gravidez!

Desde então, tudo mudou! Tudo mudou radicalmente! Passei nove meses imersa na gravidez – comia e dormia pensando no melhor tipo de parto, na obstetra ideal, nas atividades físicas ideias, na decoração do quarto ideal... E mais para o fim da gravidez, pra ser bem exata, algumas horas antes das primeiras contrações, pensei  em como tudo seria completamente diferente depois que chegasse ao mundo essa criança, já tão amada!

Entendi, depois que minha filha nasceu, porque tantos pais e mães enchiam meu facebook com fotos de seus filhos e com cada fala engraçadinha deles. Entendi porque as mulheres mais próximas gastavam a maior parte da vida delas com preocupações relacionadas a seus filhos. Entendi o que minha mãe queria dizer quando dizia o quanto me amava. E hoje em dia, tento entender e praticar aquilo que chamam de amor incondicional, que acho que é algo mais fácil de sentir pelos filhos – afinal, existe neles uma partezinha de nós.

Sobre essa última frase, hoje estava recordando quando às vezes falava pra minha mãe em nossas brigas, no auge da minha adolescência, que os pais na verdade não passam de grandes egoístas! Estava refletindo sobre isso e em parte, acho mesmo isso: amamos tanto esse ser porque, em última instância (só em última?) ele é um pedaço de nós mesmos! E quando pensei isso e fiz uma retrospectiva de tudo o que aconteceu nos últimos dois anos, amei mais ainda a minha filha! E aí, o que eu achava egoísta antes, passou a ser visto também como amor-próprio: Quando a amo tanto, amo muito a mim mesma também! Isso não é lindo?

Pensando ainda porque os pais falam tanto de seus filhos, cheguei a algumas conclusões: pode ser porque gostam de se vangloriar de seus feitos e aí falam o tempo todo de como seus filhos são demais e incomparáveis, mas pode ser também porque estão imersos em uma tarefa incrível e revolucionária que é a de criar pessoas melhores para habitarem esse mundo!

Que oportunidade única! Ajudar esses seres a fazerem diferente! E entra aí sim, algo de egoísta, no sentido de termos que olhar para nós mesmos, para o mais profundo de nós o tempo todo! Não queremos e nem devemos repetir padrões! O que meus pais e o mundo fizeram comigo que quero evitar fazer com meus filhos? Como criar pessoas mais autônomas, independentes, cuidadosas, generosas e amorosas?

Tantas teorias disponíveis – mas nenhuma delas pode funcionar direito se não olharmos para dentro de nós e para fora também, na medida em que percebemos nossos reflexos e ações automáticas, nossos condicionamentos. Sim! Esse amor incondicional tem que ser egoísta nesse sentido e tem que ser também amor por nós mesmos e até por nossos ancestrais (e no caso desses últimos, tem que ser amor e perdão!).

Haja amor!

Talvez lendo isso, as pessoas que não têm filhos – seja porque ainda não é a hora e não se sentem preprados, ou porque não têm a mínima vontade – compreendam porque esse pessoal que tem filhos não para de falar sobre isso!

É egocentrismo misturado com muito amor! É também a felicidade enorme de poder fazer diferente, de ajudar alguém a ser melhor e mais pleno que a gente, é a possibilidade de perdoar nosso passado com atitudes práticas! E é também tanta coisa que não cabe em palavras... Ai, ai...

É uma oportunidade e tanto!