sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Versos Livres

Eu gosto mesmo é dos versos livres.
Re-versos, di-versos, in-versos, uni-versos plurais.
Não gosto de ter que fazer rima a não ser que ela surja espontâneamente e traga musicalidade para a escrita, porque é aquilo o necessário naquele exato momento.
Eu gosto da liberdade de colocar as palavras fora de lugar, porque para mim a poesia tem a função justamente de tirar-nos do comodismo, da sonolência da alma e de lembrar que tudo se cria, até mesmo novos sentidos para velhos símbolos e significados.
O poeta livre tem que ser um desorganizador, uma pessoa insubmissa às regras, inclusive às gramaticais.
Eu gosto do Manoel de Barros. Gosto das palavras inventadas que ele mistura às outras que aparentemente não fazem sentido quando misturadas no seu texto. Eu gosto de ler quando ele diz que os sapos e as rãs falam de poesia. Estou totalmente de acordo.
A poesia não se prende aos limites das palavras, do papel, da mente. A poesia existe o tempo todo em todos os lugares.
Eu mesma prefiro a poesia sinestésica de um beijo ou de mil delírios arrepiantes. Eu prefiro a falta de ar que me dá estar apaixonada, aos dodecassílabos românticos e consagrados em páginas amarelas dos séculos passados.
Prefiro não ter que fazer sentido e sentir tudo o que eu desconheço com a pele, com a vista desembassada ou com a vista turvada por lágrimas – e que no meu papel, que pode ser o meu próprio corpo ou o meu odor ou o meu gosto, estejam impressas apenas algumas impressões inacabadas.
Poesia pra mim é beleza e a beleza não tem a ver só com o que é bonito, tem a ver com aquilo que nos tira de nós, que nos faz em algum canto da alma lembrar que a vida e o mundo são multidimensionais.
Eu gosto de começar a pensar desenfreadamente até que meu coração palpite e eu perca o fôlego. Eu gosto de estar fora de mim enquanto faço isso, porque é só assim que eu me adentro.
E eu gosto da poesia dos sons que não são palavras, da poesia das imagens que a minha retina ainda não conhecia.
Acho que é disso que precisamos: mais da sensibilidade poética das pessoas do que da poesia em si, que de toda forma existe independentemente dos poetas.
O mundo está carecendo mesmo é desse tipo de olhar sobre o mundo. Do olhar que reconhece a beleza de tudo o que existe e a compartilha como uma fonte luminosa de águas que hidrata a alma seca de todos nós e nos traz esperança e conforto em gotas de otimismo lírico e onírico.

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