quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Virando o disco, mudando de estação, trocando o canal, ejetando o dvd...

"Tell me, what is my life without your love
Tell me, who am I without you, by my side."

Saí da terapia e liguei o som. Essa música do meu beatle favorito, o George Harrison, tocava.
Estava cantarolando a letra quando me dei por mim e vi o que ela dizia e o que a maioria das músicas e filmes e novelas dizem! Um disparate! Simplesmente um disparate! "Me diga o que é a minha vida sem você. Me diga quem sou eu sem você ao meu lado"?.
Bem,eu discutia justamente sobre isso com a minha terapêuta e então pensei "Meus deus! Será que a nossa cultura ocidental só produz arte pela desilusão ou pela dependência emocional?".
É por essas idéias que nossa mente é invadida desde criança nos contos de fada, nos filmes românticos, quando ligamos o rádio, quando compramos um CD. Isso vende e envenena bastante.
Nunca ouvi uma música de exaltação ao amor-próprio ou à independência emocional a não ser aquela do Ultraje a Rigor: "Eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim..." e mesmo assim, as pessoas normalmente achariam um declaração dessa arrogante ou egocêntrica - porque realmente não é o usual ouvir isso!
Passei um tempo racionalmente condenando esse romantismo exacerbado da cara-metade, do amor que tudo pode e a todos salva, mas ele também está impregnado em mim, nas minhas células. Racionalmente tenho um discurso, mas na prática outra atitude.
Mas de uns dias pra cá, acho (ou mais que isso, espero do fundo do meu coração), esse padrão finalmente está começando a ruir. Me sinto literalmente enjoada quando escuto ou leio esse tipo de coisa.
Dias desses eu estava lendo um escrito de George Sand para um de seus amantes, o Musset. O que normalmente eu chamaria de um escrito arrebatador e apaixonado, mesmo que completamente insano, me fez ter reações corporais estranhas. Falta de ar, enjôo, quase repulsa, igualzinho a quando a gente come doce demais e então nos oferecem mais um pouquinho e a gente sente náuseas.
Vi aí que algo estava mesmo mudando em mim: Cansei. Enjoei.
Agora quero ser contra-cultura romântica. Quero aprender a amar com base em outros referenciais, até mesmo porque eles existem. Chega!
George Harrison que me perdôe, mas vou pular essa música das próximas vezes que ela tocar. Ou quem sabe, isso não me inspire a escrever outras versões pra essa (a minha) história:
Tell me who am I without myself? Ou melhor: Tell me who am I with you by my side without myself within?

Um comentário:

Maria Cláudia Cabral|Aika disse...

Amei! Thaís! Estou de pleno acordo com você.