terça-feira, 15 de novembro de 2011

Love Heals (ou me livrando das dores subliminares)

Ontem recebi a visita de uma amiga querida. (Os amigos são mesmo anjos disfarçados que aparecem nas horas certas!).
Há tempos ela não entrava na minha casa, e por isso, ficou surpresa com todas as novidades, com a nova decoração (que para mim já estava velha), com os quadros pregados na parede, com os detalhezinhos em cada canto, com os penduricalhos e com cada plantinha na varanda.
Como deve ser recebida uma boa amiga, preparei chocolate quente, afinal era um início de noite chuvosa e ela merecia um carinho doce o suficiente para fazê-la esquecer-se do dia agitado que havia recém acabado.
Conversamos, mostrei a ela algumas gravuras antigas que eu mesma tinha feito há algum tempo, pedi opinião sobre a moldura mais adequada, aproveitamos e rastreamos todas as outras gravuras que precisavam ser emolduradas. Arrancamos das paredes pôsteres que estavam precariamente colados com durex: que sacrilégio deixar as quatro estações do Mucha presas assim, por pura falta da atitude simples de ir à casa das molduras!
Conversamos sobre feng shui e sobre as energias estagnadas que acabam uma hora ou outra instalando-se nas nossas casas. E ela então, como se fosse um pêndulo de radiestesia, saiu andando pelos cômodos e, passados alguns momentos, começou a apontar intuitivamente todas as coisas que segundo ela tinham uma energia pesada. Bingo! Ela foi em todos os objetos que de fato tinham uma energia que já não combinavam com o presente: objetos que faziam referência ao passado, objetos dados por pessoas do passado que não fazem mais parte da minha vida. Mas eu, talvez por estar acostumada a eles, simplesmente havia deixado de percebê-los como destoantes de todo o resto...
Pregado na parede da sala, num lugar privilegiado, estava aquilo que havia sido resultado de uma aula de materiais em arte, feita em 2007: Uma xita de fundo amarelo com flores coloridas esticada em um bastidor de bordar redondo, como se fosse uma mandala. Na xita um coração partido bordado: metade dele feito de cetim vermelho, simbolizando a paixão avassaladora que mora dentro da gente. A outra metade feita de tecido xadrez, representando a prisão que as vezes o amor se torna. Alfinetes prateados juntavam as duas metades partidas (o coração era todo costurado com linha grossa preta, à mostra, que evidenciava bem a rachadura no meio dele - como naqueles desenhos em zigue-zague de quando a gente é criança). Algo quase punk-popular-romântico a obra que, para terminar, se chamava: "Love Hurts" (o amor machuca). O amor machuca???
Foi imediatamente para o lixo a obra, sem dó e sem apego! E graças a essa querida e preocupada amiga, que me deu dicas preciosas de de-CORAÇÃO (porque também me deu conselhos sobre o amor...) me dei conta de que por anos eu olhei todos os dias para algo que claramente me dizia: o amor dói!
Um coração remendado adornava a minha sala e eu não tinha me dado conta do que aquilo significava!!! E juro que no primeiro momento jogá-lo no lixo me pareceu um exagero, até que me dei conta de tudo e pronto: adeus coração partido! O amor não dói mais!!! O amor cura! Love Heals!
Olhando agora a parede em branco, me sinto mais leve. Uma parede em branco, pronta para ser pintada de outras cores, para ser texturizada ou para simplesmente permanecer em branco até que algo que valha a pena enfeitá-la apareça. De toda maneira e, acima de tudo, uma parede em branco pronta para o novo que definitivamente não é mais dor...
No lixo outros objetos detectados pela antena amorosa da minha amiga. Tchau! Bye, Bye! Aufidersen! Já vão tarde!
Adeus!

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