sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sobre as flores e as trepadeiras...

Já era ser Hera.
Cansei de grudar, de envolver, de sufocar outras plantas na ânsia pelo abraço.
Agora sou flor.
Caliandra do cerrado. Flor do sol. Lótus azul. Lírio.
Rosa, com cada espinho necessário e com todo o perfume inevitável.
Permaneço imóvel.
Sendo quem Eu Sou.
Quem quiser e se atrever, que experimente o meu néctar.
E ele com certeza é para poucos:
Azedinho-doce, com um amargo quase imperceptível ao final.
Não admito mais vespas nem zangões-zangados me ferroando.
Continuo aberta aos beija-flores mais sensíveis, entretanto.
E também à brisa (os sussurros in(can)descentes),
Aos raios de sol matutinos (as miradas admiradas douradas de êxtase)
E às gotas de orvalho (feitas do mais puro suor).
Sei que é perigoso ser flor: aberta e sem controle.
Mas apesar de frágeis as minhas pétalas e sépalas,
Eu guardo em mim o porvir do fruto
e contenho, assim, inumeráveis sementes futuras:
desse modo, eu sou forte e infinita.
Cansei de ser trepadeira.
Agora sou apenas uma flor
livre do esforço de se enroscar loucamente em outros seres
para existir plena e bela.