terça-feira, 4 de março de 2008

Desabafo sabor vinho tinto seco

Indignou-se suavemente, como quem fuma uma cigarrilha de chocolate e vê a matéria transformar-se em fumaça aos poucos... numa antiga comunicação com os deuses, esquecida, enterrada, porém tão parte de todos nós.
Sentia-se absolutamente normal... era isso o que ela aparentava ser, já que, por fora, vivia num mundo totalmente anti-natural - o mundo de quase todos nós - o mundo cotidiano e comum dos burocratas, servos, ovelhas, mulherzinhas, machistões, capitalistinhas, pequeno-burgueses, médio-burgueses, burgueses inteiros, políticos, "em cima do muros", esquerdistas corrompidos, direitistas convencidos, ordinária gente cheia de tapa-olhos invisíveis ao olhar geral.
Anestesiando-se para se desanestesiar de uma mesmice sutilmente imposta, ela não se conteve em sorrir cinicamente ao pensar que a liberdade é uma transgressão nesse mundo em que vivemos e, justamente por isso, havia tanta necessidade de transgredir nas mínimas coisas, porque talvez se sentisse menos amarrada em uma teia perversa que simplesmente não faz o menos sentido de ser.
Riu... porque por dentro sabia existir um mundo muito mais rico, cheio de poesia e brincadeira e, lá, ela tinha certeza que jamais seria ordinária... e por esse mundo ser tão real dentro dela, lhe confortava saber que um dia ele existiria fora dela também...
E nesse tempo, nessa outra lógica, todos aqueles prepotentes de agora não passariam de uma mera piada sem a MENOR graça.

Um comentário:

fjunior disse...

ainda bem que podemos transgredir, do contrário, enlouqueceríamos... acho que esta é a parte boa da vida...