sábado, 9 de fevereiro de 2008

Sem palavras

Ela olhou a página em branco e estremeceu...
Um nó na garganta lhe extraiu lágrimas agridoces: aquela era a vida dela agora - uma página em branco que, nesse momento, ela não sabia como preencher.
Pensava no passado, pensava que não devia pensar no passado – mas estava tudo tão próximo, tão ao seu alcance... sua mente cortante gritava “não!”, o seu coração impaciente exclamava “eu não sei!”
Onde havia ficado a sua coragem? Em que gaveta estava trancada?
Onde estavam as mãos que enxugariam seu choro sentido?
Sentiu-se imensamente só no vazio do presente, embora intuitivamente soubesse que estar no presente era esvaziar-se, mas não foi confortável essa idéia...
Sabia que devia estar feliz por ter nas mãos a pena para escrever como quisesse a sua história, mas se sentiu tão frágil... se sentiu tão em pedaços... que nada lhe restava a não ser seguir em frente... como sempre esteve desde o começo – sozinha.
Limpou o rosto, suspirou doloridamente e se perguntou se não estava sendo dramática demais, se não teimava tanto em amar demais, se não criava expectativas demais o tempo todo. Perguntas para as quais suas respostas sempre seriam “sim!”. Talvez porque ser exagerada daquela forma fosse parte fundamental de ser ela mesma naquela hora: romântica e instável, racional e tão irracional ao mesmo tempo...
Sorriu... como em um dos provérbios infernais de William Blake - Excesso de pranto ri. Excesso de riso chora.
Sorriu e chorou e se conformou momentaneamente com suas confusões.
Soluçou, mordeu os lábios, guardou a caneta e o papel, olhou para baixo e deixou para mais tarde escolher as melhores palavras para começar de novo...
(Nesse mesmo instante soube, sem saber, que a solução jamais viria em palavras.)

2 comentários:

Unknown disse...

Sei que isso não ajuda muito, mas ler sobre página em branco me deu uma serenidade... Talvez as soluções sejam intercambiáveis...

Thaís Werneck disse...

Provavelmente sim... essa sua idéia me deu uma serenidade também...