Enquanto
reparava nas roupas antigas e tão bem conservadas que usava hoje, pensei em
quanto tempo faz que não compro roupas novas. Desde que minha filha nasceu,
minhas prioridades na vida mudaram bastante.
Resolvi
tirar uma licença sem vencimento e passei alguns meses vivendo das economias
que tinha feito para um ano sabático, que na verdade acabou dando lugar à
viagem mais profunda que já fiz nessa vida, quando descobri que estava grávida.
Quando o dinheiro acabou, tive que voltar a trabalhar, mas por achar que o
melhor para nós duas seria passarmos o mínimo de tempo longe uma da outra, pedi
redução da carga horária, o que significou também redução no meu salário.
Desde então,
tenho vivido com menos dinheiro e vejo um duplo benefício nisso: tenho mais
tempo livre e percebi que não preciso consumir tanto quanto consumia antes.
Tudo bem
repetir roupas, frequentar menos restaurantes, não poder viajar todo mês, falar
menos ao telefone, não comprar um brinquedo a cada semana pra minha filha
(afinal, mesmo que tivesse mais dinheiro, não acho que isso seja muito bom para
as crianças!), não trocar o meu carro com apenas dois anos de uso (parece que é
quase um protocolo trocar os carros seminovos a cada dois anos!), entre outras
coisas que hoje em dias perderam importância para mim (na verdade nunca tiveram
tanta importância, mas eu estava lá, na inércia, seguindo todos os protocolos).
Tenho tempo
e tempo não é dinheiro! Tenho tantas alegrias no tempo livre do qual disponho
que nem sei quando voltarei a trabalhar mais para ganhar mais dinheiro –
dinheiro, de fato, não traz felicidade! É só reparar nas estatísticas de
pessoas com depressão... Tem muitos ricos ali!
Bom mesmo
seria ter um aumento e continuar tendo mais tempo, mas tudo bem se isso não
acontecer... Eu repito: Tempo não é dinheiro!
E me
pergunto: Que mundo é esse em que as pessoas passam mais de dez horas longe de
seus filhos, dos seus animais de estimação, das suas plantas, das casas lindas
que construíram com o suor dessas tantas horas que passam longe de casa? Que
necessidades são essas que fazem a gente querer o tempo todo ter mais dinheiro,
passar em outro concurso que pague mais e depois em outro que pague melhor
ainda e depois e depois... Do que é que a gente realmente precisa e quanto isso
realmente custa?
Falando
sobre isso com meu companheiro, ele me lembrou do conceito de Felicidade Interna
Bruta (FIB), em contraposição ao Produto Interno Bruto (PIB).
FELICIDADE INTERNA BRUTA (FIB) é um indicador sistêmico
desenvolvido no Butão, um pequeno país do Himalaia e se baseia na
premissa de que o objetivo principal de uma sociedade não deveria ser somente o
crescimento econômico, mas a integração do desenvolvimento material com o
psicológico, o cultural e o espiritual – sempre em harmonia com a Terra.
Lindo de viver!
Até quando
ficaremos presos ao velho paradigma do PIB , do “tempo é dinheiro”, das 40
horas semanais (sendo otimistas, pois pra maioria dos trabalhadores, são mais
de 50 horas por semana das quais uma boa parte passam em pé em ônibus lotados,
presos em congestionamentos, indo ser explorados por donos das lojas que têm
que funcionar 24 horas por dia, todos os dias, para que nós possamos consumir
um monte de coisa das quais não precisamos)?
Agradeço à minha
filha, que além de tantas outras experiências incríveis, me permite vivenciar
na prática o “menos é mais” e ver que é perfeitamente possível ser feliz sem
estar na última moda, sem ter o iphone 5, o ipad x, o macbook pro, o itudo (rsrsrs),
com um carro popular usado (quem dera fosse de bicicleta ou usando um bom
sistema de transporte público), sem frequentar restaurantes finos (e tendo
tempo de ir à feira comprar verduras orgânicas!), sem cortar o cabelo com o
cabeleireiro mais top (e continuar se sentindo linda por estar exalando
contentamento pelos poros) e outras coisas sem importância do tipo...
Definitivamente,
eu quero viver no mundo do FIB e é esse o mundo que eu desejo para minha filha.
Enfim, que nosso tempo seja livre do consumismo!
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