No carnaval passado imergi no cerrado. Uma parte de mim queria festa, mas acabei respeitando a outra parte que falava mais alto: a que queria calar para ouvir a natureza.
Passei quatro dias prestando atenção em cada mensagem que pudesse surgir.
O que me angustiava àquela época era o silêncio, não o meu, o do outro... Tenho uma dificuldade com a ausência de palavras e manifestações verbais alheias.
Um dia recebi a orientação de me conectar e pedir uma resposta sobre o que eu quisesse. Me deixei levar e quando vi estava sentada à margem de um córrego pequeno. Me abri para ouví-lo. A primeira coisa que ele me disse foi: "estou serenamente indo em frente, sem cessar - esse é o meu destino". Fiquei ali ouvindo o barulho leve que ele fazia enquanto caminhava, e ele continuou: "Levante-se e me acompanhe, mas fique atenta e olhe sempre bem para onde você pisa".
Levantei e fui seguindo o riozinho que reluzia por causa do reflexo do sol de fim de tarde. Segui o seu curso e ele foi se diluindo na grama até aparentemente desaparecer. No entanto, eu sabia que ele continuava ali, indo para onde ele tinha que ir - para um rio maior, que iria para outro rio maior, que iria para outro rio maior até chegar no oceano, leve o tempo que levar. Ele só estava indo por caminhos invisíveis e subterrâneos...
Nessa hora eu entendi qual era o recado que ele tinha a me dar: o de que nem sempre o silêncio significa inexistência. O rio continuava ali, apesar de não poder ser visto nem ouvido por mim.
Hoje estou indo de novo me calar para ouvir a natureza e a minha angúsita continua sendo a mesma: compreender o silêncio do rio e aprender a respeitar o silêncio dos outros.
Por que é tão difícil?
Um comentário:
Ahhh, minha nega. É dificil pq nós, seres cheios de vida, somos sedentos de vida dos outros também...
De manifestações como as nossas
De sinceridade, claridade e palavras, pq somos assim.
O problema é esperar dos outros a postura que teríamos. Isso sim é dificil!
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