quarta-feira, 8 de abril de 2009

Uma Carta de amor escrita por Fernando Pessoa

Ophelinha:

Agradeço a sua carta. Ella trouxe-me pena e allivio ao mesmo tempo. Pena, porque estas cousas fazem sempre pena; allivio, porque, na verdade, a unica solução é essa - o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. Da minha, ao menos, fica uma estima profunda, uma amisade inalteravel. Não me nega a Ophelinha outro tanto, não é verdade?

Nem a Ophelinha, nem eu, temos culpa nisto. Só o Destino terá culpa, se o Destino fosse gente, a quem culpas se attribuissem.

O Tempo, que envelhece as faces e os cabellos, envelhece tambem, mas mais depressa ainda, as affeições violentas. A maioria da gente, porque é estupida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contrahiu o habito de se sentir a amar. Se assim não fosse, naão havia gente feliz no mundo. As creaturas superiores, porém, são privadas da possibilidade d'essa illusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por elle a estima, ou a gratidão, que elle deixou.

Estas cousas fazem soffrer, mas o soffrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão de passar o amor e a dor, e todas as mais cousas, que não são mais que partes da vida?

Na sua carta é injusta para commigo, mas comprehendo e desculpo; decerto a escreveu com irritação, talvez mesmo com magua, mas a maioria da gente - homens ou mulheres - escreveria, no seu caso, num tom ainda mais acerbo, e em termos ainda mais injustos. Mas a Ophelinha tem um feitio optimo, e mesmo a sua irritação não consegue ter maldade. Quando casar, se não tiver a felicidade que merece, por certo que não será sua a culpa.

Quanto a mim...

O amor passou. Mas conservo-lhe uma affeição inalteravel, e não esquecerei nunca - nunca, creia - nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequeneina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua indole amoravel. Pode ser que me engane, e que estas qualidades, que lhe attribúo, fossem uma illusão minha; mas nem creio que fossem, nem, a terem sido, seria desprimor para mim que lh'as attribuisse.

Não sei o que quer que lhe devolva - cartas ou que mais. Eu preferia não lhe devolver nada, e conservar as suas cartinhas como memoria viva de uma passado morto, como todos os passados; como alguma cousa de commovedor numa vida, como a minha, em que o progresso nos annos é par do progresso na infelicidade e na desillusão.

Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infancia, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras affeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memoria profunda do seu amor antigo e inutil

Que isto de "outras affeições" e de "outros caminhos" é consigo, Ophelinha, e não commigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existencia a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais á obediência a Mestres que não permittem nem perdoam.

Não é necessario que comprehenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei na minha.


Fernando

29/XI/1920

terça-feira, 7 de abril de 2009

Melancolia, parte II

Te vi indo embora.
Fechei a porta, cerrei os olhos molhados, adormeci.
Acordei sem vontade, ainda triste, cara inchada de chorar.
Saí para o trabalho, fechei os vidros do carro, como se ali dentro eu pudesse me isolar da vida que continua, independente de nós.
Vi os mesmos carros apressados, uns indo para o sul, outros para o norte, correndo, sem parar para pensar. Liguei o som e coloquei uma trilha sonora para aquele momento em que eu gostaria de não pertencer a esse mundo... os carros continuaram indo para onde tinham que ir, eu mesma coloquei a primeira marcha, assim que o farol abriu, e continuei indo para onde eu deveria ir.
Mantive as janelas fechadas para isolar o barulho de fora, para escutar somente o barulho de dentro, que por um instante não pertenceu a nenhum lugar...
Não fez silêncio, David Bowie continuou a cantar para nós dois por um breve momento, então eu desliguei o som e segui meu caminho.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

melancolia, parte I

Te vejo sozinho, saboreando seu amor cabernet-sauvignon sentado num canto do quarto vazio, procurando em vão os culpados para poder absolvê-los e quem sabe também ser absolvido.
Eu do lado de cá, sorvendo goles de um vinho lacrimoso, exageradamente doce, que chega dói a garganta, estou sem ação, cansada, triste e frustrada...
Escuto mil vezes a mesma música pra aumentar a minha dor... dizem que isso é ser romântico... talvez isso seja somente ridículo e ultrapassado.
Escuto Cazuza e escrevo essas linhas que você provavelmente nunca vai chegar a ler...
Um filme invisível me passa de novo pela cabeça... eu rebobino, passo em fast-forwards e me pergunto se dessa vez seguiremos mesmo em frente...
Cenas parecidas nesses últimos anos... finais praticamente os mesmos, praticamente pelos mesmo motivos, com a mesma cor, a mesma falsa esperança de que algum dia dê certo, de que algum dia deixemos de nos magoar... para sempre...
Vai saber...
Boa sorte!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O Luto

O luto é um sentimento humano de pesar pela perda de outro ser humano. O luto tem diferentes formas de expressões em culturas distintas.
O uso de determinadas cores por exemplo, pode indicar que um indivíduo ou grupo está em luto. Um povo ou país, quando da morte de uma personalidade importante pode entrar em luto também.
Antigamente, quando uma amigo ou familiar de uma pessoa morria, ela usaria roupas pretas para mostrar seus sentimentos pela pessoa.

Entende-se por luto não somente a reação vivenciada diante da morte ou perda de um ser amado, mas também as manifestações ocorridas em outras perdas, como separações de familiares, de amigos, conjugais. Lembranças de valores emocionais, como mudanças de casa e de país, remetem ao processo de luto. Frente à instalação destas perdas significativas, o luto é visto como um processo mental que as designa.

A característica inicial do processo de luto acontece pelas relembranças da perda aliada ao sentimento de tristeza e choro, sendo que a pessoa se consola logo após. Este é um processo que evolui, onde as relembranças são intercaladas com cenas agradáveis e desagradáveis, sem, necessariamente, ser acompanhadas de tristeza e choro. Além destes sentimentos, é comum o choque, a raiva, a hostilidade, a solidão, a agitação, a ansiedade, a fadiga. Sensações físicas como vazio no estômago e aperto no peito podem ocorrer. A duração deste processo é inconstante e seguido de uma notável falta de interesse pelo mundo exterior. Com o passar do tempo, o choro e a tristeza vão diminuindo e a pessoa vai se reorganizando, porém é um processo a longo prazo e os episódios de recaída são comuns.

É importante salientar que a dor da perda não pode ser avaliada, cada pessoa deve ser entendida em sua necessidade, com suas características e reações peculiares.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Luto